sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A autonomia da ciência de Galileu ao Genoma

Autor: João Batista Machado Barbosa

Fonte: Prática Jurídica, Ano 1, nº 2, 31 de maio de 2002

Mensagem principal: Reavaliar a autonomia da ciência e não tentar impedir a investigação científica como no caso de Galileu.

RESUMO

Galileu não foi perseguido pela igreja simplesmente por dizer que a Terra girava em torno do Sol, mas por tentar decifrar a natureza antes reservada apenas a revelação divina. Nessa época a Igreja vivia a fase conhecida como contra-reforma e qualquer concepção cientifica que não fosse de inspiração divina era perigosa. O pensamento daquela época não concebia a superioridade do intelecto sem a ajuda da revelação divina para descobrir os segredos do mundo, ou seja, a realidade atrás das aparências, impedindo dessa forma a autonomia da ciência.
O aprimoramento do telescópio por Galileu permitiu visões fascinantes das crateras da Lua, das manchas solares, dos satélites de Júpiter, publicando o livro denominado Siderius Nuncius, fato muito festejado no meio científico e mesmo junto a comunidade religiosa, visto que alguns membros da Igreja pertenciam a sociedade científica de Galileu. As descobertas de Galileu desafiavam o conhecimento institucionalizado da época ensinado nas universidades baseado nas idéias Aristotélicas e na escritura sagrada representando um perigo para o saber dos doutores e sábios das universidades, além de contrariar a teologia cristã de que o céu era perfeito e imutável e a Terra imperfeita.
Em 1632 Galileu publica seu livro Diálogo dos Grandes Sistemas, tendo apoio do papa Urbano relatando a visão do sistema Heliocêntrico, Geocêntrico e um observador interessado, porém o diálogo não foi tratado de modo imparcial e o povo identificou as palavras do defensor do geocentrismo como sendo do papa, sendo Galileu processado e condenado.
Para Galileu a ciência permitia fazer uma descrição verdadeira do mundo contrariando a filosofia pregada pela Igreja Católica de que as teorias científicas só poderiam ser instrumentos, hipóteses matemáticas usadas somente para cálculos não para descrever a realidade. A verdade só poderia ser revelada por meio da palavra divina.
Popper cria outra concepção, a qual chamamos de realismo, para ele a ciência é um instrumento verdadeiramente capaz de descrever as coisas reais, mas que ela não deve esperar encontrar a essência ou natureza das coisas, a realidade por trás das aparências, e nem conceber o conhecimento como último e incontestável.
Vencida a luta a favor da liberdade de investigação científica, a autonomia da ciência precisa ser reavaliada, não pelos métodos, mas por seus resultados e suas implicações sociais como é o caso do programa Genoma capaz de decifrar o código genético, pois suas informações poderiam ser usadas tanto para prevenir doenças como para selecionar pessoas pelas empresas empregadoras por seus genes, discriminando as portadoras de genes defeituosos. Não adianta impedir a investigação científica nem se lamentar pelo desenvolvimento da ciência, temos que nos preocupar com o risco da autonomia absoluta que pode levar ao autoritarismo da razão e o controle do conhecimento por empresas privadas ou determinados países, é preciso compreender que a ciência deve servir ao homem e por isso ele deve ser consultado sobre os benefícios e malefícios que ela lhe vai proporcionar. Os destinos da ciência devem ser discutidos democraticamente.

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