domingo, 15 de agosto de 2010

A Corrida da Humanidade para o Espaço Cósmico

O presente artigo discorrerá sobre a trajetória da Astronáutica no século XX, seu desenvolvimento e os interesses envolvidos, além de tratar os assuntos pertinentes a essa área como a inevitável militarização do espaço, a dominação das telecomunicações pelos países que dominam a tecnologia espacial, a importância do direito espacial, o acesso tardio dos países subdesenvolvidos a essa nova ciência, bem como o assunto relativo ao lixo espacial e como a Astronáutica está presente em nossa vida diária.
O Homem sempre se interessou pelo espaço cósmico, primeiramente observando o movimento e peridiocidade dos astros com o objetivo de regular suas atividades cotidianas através de um calendário preciso e com o acúmulo dessas observações desenvolveu a astronomia e posteriormente com a perspectiva de exploração do espaço, sempre presente no imaginário coletivo, abriu espaço para o desenvolvimento da Astronáutica.

A Astronáutica foi a ciência que proporcionou ao homem a possibilidade de explorar o espaço cósmico, sonho este descrito em vários livros de ficção científica como, por exemplo, as viagens interplanetárias do escritor francês Jules Verne na publicação de seu livro da Terra a Lua que influenciou inúmeros pioneiros da Astronáutica, tais como Oberth, Tsiolkovski, entre outros.

O desenvolvimento da Astronáutica se deu com fins exclusivamente militares empreendidas pelas potências econômicas, Alemanha, URSS e EUA, visto a preocupação desses países com a defesa e a possibilidade da dominação de outras nações através da força militar para obter vantagens econômicas. O desenvolvimento dessa nova ciência trouxe problemas antes não existentes como a militarização espacial, seguida pela necessidade de criação de regras para utilização do espaço e o lixo espacial.

A história da Astronáutica no século XX pode ser dividida em três períodos: os da descobertas realizadas até o fim da II Guerra Mundial, o da corrida espacial entre EUA e URSS e os dos projetos pós Guerra Fria. Entre as descobertas realizadas até 1945 destacam-se as primeiras experiências com foguetes espaciais, vinculadas ao desenvolvimento de novas armas de guerra, desenvolvido pelos alemães entre 1935 e 1945 com a construção das bombas-foguetes V-1 e V-2, usadas nos ataques aéreos contra a Inglaterra e a Bélgica durante a II Guerra Mundial. A V-2 é considerada precursora dos modernos mísseis balísticos e dos foguetes de lançamento de satélites e de naves espaciais.

A corrida espacial protagonizada pelas duas potências hegemônicas foi palco para a maior disputa espacial pela conquista do espaço. Ela resulta em grandes avanços científicos e tecnológicos, especialmente nas áreas da aeronáutica, de telecomunicações e de produção de armamentos. Os soviéticos saem na frente com o lançamento em 1957 do Sputnik 1, primeiro satélite artificial a entrar em órbita. Um mês depois mandam para o espaço o primeiro ser vivo, a cadela Laika, a bordo da Sputnik 2. A reação dos EUA vem em 1958, com a criação da NASA. Responsável pelo programa espacial do país, lança naquele mesmo ano o primeiro satélite artificial norte-americano, o Explorer 1. Nos anos seguintes, as duas potências investem em projetos pioneiros de exploração da Lua (o russo Luna) e de reconhecimento dos planetas Vênus (o russo Venera e o norte-americano Mariner), Marte e Mercúrio (o norte-americano Mariner).

A década de 60 começa com um objetivo, o de colocar o homem no espaço. A URSS sai novamente na frente com a primeira viagem tripulada, a de Iuri Gagárin em 1961. Seis anos depois lançam a nave Soyuz 1, um projeto experimental para uma viagem tripulada a Lua. Mas a conquista da Lua, ponto culminante da corrida espacial, é realizada pelos EUA em 1969. No dia 20 de julho, o módulo lunar Eagle, da nave Apollo 11, pousa no satélite e o astronauta Neil Armstrong torna-se o primeiro homem a pisar em outro corpo celeste e é dele a famosa frase: “um pequeno passo para o homem, um grande salto para a Humanidade”, realmente essas palavras traduzem o grande desenvolvimento que as pesquisas espaciais trouxeram para a sociedade como o desenvolvimento das comunicações via satélite, a redução nos componentes eletrônicos e o possível acesso ao microcomputador, bem como outros avanços na área da medicina. A bandeira dos EUA é fincada no solo lunar, simbolizando a vitória norte-americana na corrida espacial. Após a conquista da Lua, a prioridade da exploração do espaço passa a ser a pesquisa científica e tecnológica, viabilizada com a construção de estações e ônibus espaciais e com o lançamento de sondas espaciais, embora os objetivos militares continuem sendo o elemento norteador, visto que os satélites desempenham papéis estratégicos de monitoramento, principal arma para localização de centros militares e movimentação de tropas inimigas, amplamente utilizado na guerra do Afeganistão e Iraque, demonstrando a superioridade da nação que domina a tecnologia espacial.

Em 19 de abril de 1971, os soviéticos lançam sua primeira estação orbital, a Salyut. Nela são realizados vários tipos de pesquisa científica na ausência da gravidade. A contrapartida norte-americana é a Skylab, lançada em maio de 1973.

Na década de 70, outros países como o Brasil se aventuram nessa nova empreitada com a criação do Instituto Nacional de Atividades Espaciais e a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais, sendo regulamentada a pesquisa Astronáutica. Na prática o programa espacial brasileiro teve início com o desenvolvimento de foguetes sonda, sendo o Sonda I lançado em 1966. A China também segue esse caminho com o lançamento de seu primeiro satélite, denominado de Tung-hung (o oriente é vermelho).

No ano de 1986, os soviéticos colocam em órbita a Mir que permanece no espaço até hoje. Em junho de 1997 acontece o décimo e mais grave acidente na estação, então ocupada por dois astronautas russos e um norte americano. A nave de suprimentos não tripulada Progress choca-se com a Mir durante manobras de acoplamento. O acidente provoca 10% de despressurização, reduz em 50% o fornecimento de energia e dificulta a comunicação com a Terra. A missão de conserto começa de fato em agosto de 1997, depois de ter sido adiada várias vezes.

No início da década de 80, os EUA desenvolvem seu projeto de ônibus espacial, o Space Shuttle, idealizado para facilitar as viagens tripuladas entre a Terra e as estações orbitais, para missões de lançamento, reparo e remoção de satélites artificiais e para pesquisas científicas. O programa é inaugurado em abril de 1981, com o lançamento do Columbia, e interrompido em 1986, por causa do acidente com o Challenger, que explode ao partir para sua décima missão, matando os sete tripulantes. Dois anos e meio depois, o programa é retomado com o ônibus espacial Discovery, seguido do Atlantis.

Entre os projetos mais importantes do período estão as sondas norte-americanas Voyager, destinadas a alcançar a órbita de diferentes planetas em um mesmo vôo para depois ultrapassar as fronteiras do sistema solar. A Voyager 1, lançada em 1977, visitou Júpiter e Saturno, e a Voyager 2, que partiu no mesmo ano, atingiu Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Atualmente, ambas se encontram fora do sistema solar.

Os anos após o fim da Guerra Fria foram pouco produtivos para a Astronáutica. As potências mundiais sofreram com a recessão econômica e na redefinição de seus objetivos estratégicos, a competição espacial ficou em segundo plano. Apesar disso, há alguns projetos de grande porte, com destaque para a Estação Espacial Internacional Alpha, o telescópio espacial Hubble, a nave Galileu, a exploração de Marte e o Neat.

Alguns projetos são desenvolvidos em conjunto para a redução de despesas, visto que houve cortes no orçamento de alguns países, enquanto outros com seu orçamento irrisório os impediriam de realizar sozinho um projeto de grande porte como no setor de Astronáutica. Como exemplo é a Estação Espacial Internacional Alpha (Issa), um programa entre Federação Russa, EUA, Canadá, Europa, Japão e Brasil que tem por objetivo a implantação de uma base permanente de pesquisa no espaço. A primeira etapa dessa cooperação começou em 1995, com o acoplamento do ônibus espacial norte-americano Atlantis á estação orbital russa Mir, formando o maior complexo espacial já colocado em órbita. A estação deverá ser finalizada com os módulos suplementares e os sistemas fornecidos por Canadá, Japão, Brasil e Europa, num total de 30 lançamentos. De acordo com a previsão, ela pesará 415 toneladas e estará girando em uma órbita circular a 420 km de altitude. Seis pesquisadores deverão trabalhar permanentemente. O projeto deve consumir 15 bilhões de dólares.

O telescópio espacial Hubble é lançado pelos EUA em 1990 para observar e fotografar objetos astronômicos jamais vistos, como as estrelas em formação e novas galáxias. Tem alcance de 14 bilhões de anos luz (1 ano luz equivale a cerca de 9,5 trilhões de km). Em 1997 sofre sua segunda reforma (a primeira foi em 1993), que coloca em uma órbita 15 km mais alta, a 625 km da Terra. Ganha maior precisão, sendo capaz de captar imagens de objetos mais distantes e de observar melhor os buracos negros. Um dos principais objetivos desse telescópio é estudar a idade do Universo, agora estimada entre 13 e 20 bilhões de anos.

A exploração do sistema solar entra em uma nova era com o lançamento da nave Galileu em 1989. Com 2,5 toneladas, ela percorre a órbita da Terra, da Lua e de Vênus até chegar a Júpiter, em dezembro de 1995. Para vencer os 780 km que separa este planeta da Terra, a nave aproveita a força gravitacional de outros astros. Ao chegar a Júpiter, ela penetra a atmosfera do planeta e lança a sonda Galileu, de 355kg. Durante 75 minutos, a Nasa recebe informações sobre a estrutura e a composição da atmosfera até a sonda ser destruída pela enorme pressão atmosférica. A nave, porém, continua a pesquisa dos satélites de Júpiter – Io, Ganimedes, Calisto e Europa. Um dos resultados, divulgado em 1997, confirma a existência de um imenso oceano debaixo da superfície congelada de Europa.

Em julho de 1997, a sonda Mars Pathfinder pousa em Marte. Lançada pela Nasa, tem o objetivo principal de pesquisar a atmosfera e o solo do planeta, além de verificar se existiu água na forma líquida, uma das condições para vida em Marte. A sonda leva consigo um pequeno robô, o Sojourner, uma espécie de triciclo movido à luz solar e equipado com uma câmera de televisão, seis rodas, garras metálicas e suspensão adaptável a qualquer tipo de terreno. Manobrado da Terra, a mais de 190.000.000 km, recolhe amostras do solo e envia os dados de volta para a Terra. Essa missão deve se estender até 2005.

O Neat, sigla em inglês para Programas de Rastreamento de Asteróides próximos a Terra. O projeto pretende estudar as órbitas dos cometas e asteróides que apresentam risco de colisão com a Terra. Entre os observatórios envolvidos destacam-se o de Steward, no sul do Arizona, desde de 1989, e o da ilha de Maui, no Havaí, instalado em 1995. São considerados potencialmente perigosos os asteróides que passam a uma distância menor que 20DL (distância lunar, distância média entre a Terra e a Lua).

Além desse projeto existe outro que controla as atividades solares, comandado pelo satélite ACE da Nasa que envia o alerta por rádio uma hora antes de a tempestade atingir a Terra, sua importância se deve ao fato das tempestades solares provocarem danos nos satélites prejudicando seu funcionamento, bem como a ação prejudicial em aviões que estiverem voando na hora da tempestade.

Um dos equipamentos espaciais mais presentes em nossas vidas é sem dúvida o Satélite Artificial (veículo espacial, tripulado ou não, colocado em órbita de um planeta, de um satélite ou do Sol). É utilizado principalmente na pesquisa científica, mas também nas telecomunicações em geral, como na retransmissão de sinais de rádio e de televisão e na interligação de redes de computadores, como a Internet. Nas telecomunicações, o satélite pioneiro foi o Telstar, lançado pelos norte-americanos em 1962. Os satélites são classificados em científico ou de aplicação. No primeiro caso aproveita-se sua capacidade de orbitar acima da atmosfera para estudar desde a composição química das camadas atmosféricas da Terra até as condições de outros planetas. No segundo utiliza-se a vantagem de o satélite cobrir grandes regiões da superfície terrestre, o que permite, além de outras funções, a transmissão de informações entre localidades muito distantes. Os satélites artificiais lançados para fora do campo gravitacional da Terra são chamados de sondas espaciais. As sondas podem estudar a Lua, os outros planetas ou cometas do sistema solar e até mesmo o meio interplanetário. É o caso da sonda Galileu, lançada em 1989, que orbita Júpiter, e da sonda Cassini, lançada em outubro de 1997, que deverá alcançar a órbita de Saturno em 2004. Um satélite permanece em órbita por causa da força da gravidade. As órbitas possuem diferentes formas e altitudes. Podem ser polares, circulares ou elípticas, sendo sua distância de algumas centenas de quilômetros ou milhares deles.

O principal problema verificado com o lançamento de objetos espaciais são os resíduos provenientes dos foguetes, satélites desativados, tanques de combustível e fragmentos de aparelhos que explodiram como, por exemplo, as armas anti-satélites. Em junho de 1985, havia 5.400 objetos desse tipo de grande e médio porte e 40 mil de pequenas dimensões. Dois satélites, pelo menos, foram destruídos em colisões com o lixo espacial. Em 24 de julho de 1981, o satélite soviético de navegação Cosmos 1275 desintegrou-se em milhares de pedaços ao ser atingido por um objeto metálico. O mesmo ocorreu com o satélite norte-americano Landsat, em 1982. A estação orbital soviética Salyut 7 foi atingida por pequenos objetos que abriram buracos de milímetros em sua estrutura. Além do problema de choque entre os aparelhos espaciais, há também o risco desses objetos entrarem na atmosfera terrestre e atingir algum local habitado, embora a probabilidade seja pequena haja visto que 70% da superfície seja formada pelos oceanos.

Outra questão relevante é sobre o uso do espaço, pois em primeiro lugar a quem pertence o espaço, será que ele pode ser dividido, os países sem tecnologia espacial têm lugar na disputa, cabe ao direito espacial definir tais regras, pois um exemplo simples foi quando os Estados Unidos lançaram um satélite que permitia a população russa assistir aos programas de televisão norte-americanos, estando em plena guerra fria, os russos acusaram os Estados Unidos de guerra ideológica e os satélites televisivos tiveram que operar em faixas de freqüência predefinidas.

Cada vez somos mais dependentes da tecnologia espacial, pois imagine o caos que seria para o tráfego aéreo, a localização marítima de um navio, por exemplo, sem a utilização de um satélite ou como seria moroso a construção de um mapa sem as fotos de satélite, sem contar que Internet, televisão digital e celular, nem pensar.

FONTES CONSULTADAS
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Astronomia e Astronáutica. 2º ed. São Paulo: Editora S.A., 1981.

Almanaque Abril 98: São Paulo: Astronáutica, 1998.

Enciclopédia Microsoft Encarta: Lixo espacial, 1995

João Steiner. Satélites. Superinteressante, São Paulo, nº 1, p.74, janeiro de 2000.

Nenhum comentário:

Postar um comentário