segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Biografia: Nelson Mandela - Líder negro e estadista da África do Sul

Nelson Mandela foi um líder rebelde e, posteriormente, presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Seu nome verdadeiro é Rolihlahla Madiba Mandela. Principal representante do movimento antiapartheid, considerado pelo povo um guerreiro em luta pela liberdade, era tido pelo governo sul-africano como um terrorista e passou quase três décadas na cadeia. De etnia Xhosa, Mandela nasceu num pequeno vilarejo na região do Transkei. Aos sete anos, Mandela tornou-se o primeiro membro da família a frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês "Nelson". Seu pai morreu logo depois e Nelson seguiu para uma escola próxima ao palácio do Regente. Seguindo as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedade aos 16 anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudou cultura ocidental. Em 1934, Mandela mudou-se para Fort Beaufort, cidade com escolas que recebiam a maior parte da realeza Thembu, e ali se interessou pelo boxe e por corridas. Após se matricular, começou o curso para se tornar bacharel em direito na Universidade de Fort Hare, onde conheceu Oliver Tambo e iniciou uma longa amizade. Ao final do primeiro ano, Mandela se envolveu com o movimento estudantil, num boicote contra as políticas universitárias, sendo expulso da universidade. Dali foi para Johanesburgo, onde terminou sua graduação na Universidade da África do Sul (UNISA) por correspondência. Continuou seus estudos de direito na Universidade de Witwatersrand. Como jovem estudante de direito, Mandela se envolveu na oposição ao regime do apartheid, que negava aos negros (maioria da população), mestiços e indianos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos. Uniu-se ao Congresso Nacional Africano em 1942 e dois anos depois fundou, com Walter Sisulu e Oliver Tambo, entre outros, a Liga Jovem do CNA. Depois da eleição de 1948 dar a vitória aos afrikaners (Partido Nacional), que apoiavam a política de segregação racial, Mandela tornou-se mais ativo no CNA, tomando parte do Congresso do Povo (1955) que divulgou a Carta da Liberdade – documento contendo um programa fundamental para a causa antiapartheid. Comprometido de início apenas com atos não violentos, Mandela e seus colegas aceitaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, em março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, matando 69 pessoas e ferindo 180. Em 1961, ele se tornou comandante do braço armado do CNA, o chamado Umkhonto we Sizwe ("Lança da Nação", ou MK), fundado por ele e outros militantes. Mandela coordenou uma campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo e viajou para o Marrocos e Etiópia para treinamento paramilitar. Em agosto de 1962 Nelson Mandela foi preso após informes da CIA à polícia sul-africana, sendo sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 1964 foi condenado a prisão perpétua por sabotagem (o que Mandela admitiu) e por conspirar para ajudar outros países a invadir a África do Sul (o que Mandela nega). No decorrer dos 27 anos que ficou preso, Mandela se tornou de tal modo associado à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou o lema das campanhas antiapartheid em vários países. Durante os anos 1970, ele recusou uma revisão da pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada. Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando a campanha do CNA e a pressão internacional conseguiram que ele fosse libertado em 11 de fevereiro, aos 72 anos, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk. Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da paz em 1993. Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997) e primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999), Mandela comandou a transição do regime de minoria no comando, o apartheid, ganhando respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa. Ele se casou três vezes. A primeira esposa de Mandela foi Evelyn Ntoko Mase, da qual se divorciou em 1957 após 13 anos de casamento. Depois se casou com Winnie Madikizela, e com ela ficou 38 anos, divorciando-se em 1996, com as divergências políticas entre o casal vindo a público. No seu 80º aniversário, Mandela casou-se com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente moçambicano. Após o fim do mandato de presidente, em 1999, Mandela voltou-se para a causa de diversas organizações sociais e de direitos humanos. Ele recebeu muitas distinções no exterior, incluindo a Ordem de St. John, da rainha Elizabeth 2ª., a medalha presidencial da Liberdade, de George W. Bush, o Bharat Ratna (a distinção mais alta da Índia) e a Ordem do Canadá. Em 2003, Mandela fez alguns pronunciamentos atacando a política externa do presidente norte-americano Bush. Ao mesmo tempo, ele anunciou seu apoio à campanha de arrecadação de fundos contra a AIDS chamada "46664" - seu número na época em que esteve na prisão. Em junho de 2004, aos 85 anos, Mandela anunciou que se retiraria da vida pública. Fez uma exceção, no entanto, por seu compromisso em lutar contra a AIDS. A comemoração de seu aniversário de 90 anos foi um ato público com shows, que ocorreu em Londres, em julho de 2008, e contou com a presença de artistas e celebridades engajadas nessa luta. Nelson Mandela faleceu em 2013 aos 95 anos em sua casa na África do Sul.

Disponível em: http://educacao.uol.com.br. Acesso em 09/12/2013.

Por que UE e Rússia querem tanto a Ucrânia?

Por Diego Braga Norte

Com fortes laços com a Rússia, Ucrânia é seduzida pelo bloco europeu - e oscila entre os dois. Saibam quais são as origens da disputa e o que está em jogo nessa queda de braço.
Uma república de mais de 44 milhões de pessoas, com uma economia fragilizada, mas com enorme potencial e um território de mais de 600 000 quilômetros quadrados (área maior que a da França, o maior país da União Europeia) está sendo alvo de uma queda de braço entre UE e Rússia. Enquanto os europeus têm interesse em expandir suas fronteiras para o leste e isolar a Rússia, Moscou quer aumentar sua zona de influência e aproximar-se da UE para confrontá-la.  E no meio do caminho tinha uma Ucrânia.


Muito novo – a Ucrânia independente tem apenas 23 anos – o país é para a UE a porta de entrada do Oriente, e para a Rússia, a porta de saída para o Ocidente. Enquanto a UE tenta abrir a porta, para a Rússia o importante é fechá-la. Por sua posição estratégica, tamanho e potencial, o país é alvo de cobiça dos europeus, mas ainda vive sob a sombra da Rússia – que tem ligações umbilicais com Kiev. Questões históricas, culturais e econômicas ligam a Ucrânia ao país de Vladimir Putin, mas a população que tem protestado nas ruas vê motivos mais fortes para se inclinar para o outro lado. Os manifestantes apreciam os benefícios oferecidos pelo Ocidente, principalmente os jovens, estudantes e profissionais da classe média, como explicam o professor Evert Vedung, especialista em União Europeia e professor emérito de ciência política da Universidade de Uppsala, na Suécia. “Eles parecem preferir a democracia ocidental ao autoritarismo russo porque o tratado com a Rússia não contém quaisquer requisitos democráticos nem defende um sistema jurídico com menos corrupção e mais direitos humanos”. No papel, tudo parecia estar muito bem encaminhado. Na prática, como diria Garrincha, ‘faltou combinar com os Russos’.
O ‘Não’ – Em 28 de novembro, a União Europeia foi esnobada pela Ucrânia. Em Vilnius, na Lituânia, onde foi realizada uma cúpula com seis ex-repúblicas soviéticas – Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Bielo-Rússia, Armênia e Azerbaijão – os resultados foram muito aquém do esperado pelos europeus. A UE só conseguiu firmar dois acordos de associação com a Geórgia e a Moldávia, pequenos países com economias minúsculas e população somada inferior a 6 milhões habitantes. Os demais ex-satélites da extinta URSS não quiseram se aproximar da Europa. Dos quatro que se abstiveram, o mais importante é a Ucrânia. A rejeição ao acordo desencadeou protestos contra o governo ucraniano, mas, depois de alguns enfrentamentos mais ríspidos entre o povo e a polícia, a situação ficou mais calma, segundo o embaixador brasileiro em Kiev, Antônio Fernando Cruz de Mello. “Os dois lados estão dispostos a dialogar e isso é bom”. Mello também avalia que por ser uma república que ainda engatinha, essa crise pode vir a fortalecer as instituições democráticas do país. “Por ser um país da ex-URSS, os tempos aqui são mais dilatados e as coisas não acontecem na velocidade do Ocidente. A Revolução Laranja durou meses. O povo não dá sinais de arrefecimento e as negociações internas podem ser lentas, mas podem vir a fortalecer a democracia na Ucrânia”. O professor Angelo Segrillo, especialista em leste europeu e professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, concorda e avalia que, neste momento, derrubar o governo seria um erro. “O presidente Yanukovych tem legitimidade, foi eleito em um processo democrático. Se quiserem derrubá-lo tem de ser nas urnas”, defende.

Disponível em: http://veja.abril.com.br. Acesso em 09/12/2013.

Satélite brasileiro de R$ 270 milhões falha no lançamento e cai na Terra

O Ministério da Ciência e Tecnologia confirmou nesta segunda-feira (9) que o satélite brasileiro CBERS-3 caiu na Terra horas após ter sido lançado pelo Centro de Lançamento de Satélites de Taiyuan, na província de Shanxi, na China. O projeto custou R$ 270 milhões e é uma parceria entre o Brasil e o país asiático, com o objetivo de melhorar a observação do desmatamento na Amazônia. O satélite foi lançado à 1h26 pelo horário de Brasília (11h26 em Pequim) de hoje. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), houve uma falha de funcionamento durante o voo do Longa Marcha 4B, o foguete responsável por levar o satélite ao espaço. 



A falha teria causado um mau posicionamento do satélite na órbita prevista – como se ele seguisse o caminho errado previsto pela equipe –, obrigando o veículo a voltar ao planeta. Nesta madrugada, o INPE chegou a publicar uma nota dizendo que o lançamento do satélite havia sido um sucesso, mas tempo depois veio a informação de que o satélite não estava na órbita correta. De acordo com o INPE, "os dados obtidos mostram que os subsistemas do CBERS-3 funcionaram normalmente durante a tentativa de sua colocação em órbita". Técnicos brasileiros acompanharam o lançamento remotamente (via conferência) do Centro de Controle de Satélites do Instiituto em São José dos Campos, em São Paulo. Uma comitiva brasileira participou ao vivo do centro de lançamento chinês. Estavam nessa visita o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, e o diretor do INPE, Leonel Perondi. O programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS, na sigla em inglês) é uma parceria de 25 anos entre Brasil e China. Cada país cuida de 50% do projeto (construção, testes), mas o lançamento do satélite ao espaço é de 100% de responsabilidade da China. Ao todo, já foram lançados três satélites (CBERS-1, CBERS-2 e CBERS-2B), sendo que o CBERS-3 iria substituir o CBERS-2, que parou de funcionar. Todos os satélites anteriores operaram adequadamente e cumpriram suas missões, como informa o INPE. O CBERS-3 possui uma série de equipamentos que permite fotografar, rastrear e registrar vários tipos de imagens com resolução superior às versões anteriores, como atividades agrícolas, desmatamento de florestas, incêndios, mudanças na vegetação, recursos hídricos e a expansão humana.

Disponível em: http://canaltech.com.br . Acesso em 09/12/2013. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

“O capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal”

Para o geógrafo britânico David Harvey, que escreve sobre urbanização a partir do marxismo, os problemas das cidades criam novas formas de fazer política. Por Piero Locatelli.

Os problemas urbanos criam um espaço onde novas formas de fazer política podem acontecer. Para o geógrafo britânico David Harvey, 78 anos, é possível constatar isso ao olhar os protestos que ocorreram ao redor do mundo nos últimos anos. “Não vejo as instituições políticas respondendo ativamente a este novo jeito de fazer política. Mas também não acho que esses movimentos saibam o que fazer”, diz Harvey. Professor da Universidade da Cidade de Nova York, Harvey falou com a reportagem de CartaCapital em São Paulo, antes de lançar o livro Os limites do capital (Editora Boitempo), publicado originalmente em 1982 e agora traduzido para o português. No livro, Harvey aborda a dinâmica da urbanização a partir de uma interpretação minuciosa do legado do filósofo alemão Karl Marx. Harvey é um dos principais estudiosos de Marx na atualidade. Suas aulas sobre o primeiro volume do Capital de Marx, disponíveis na internet, foram vistas mais de um milhão de vezes. Para o geógrafo, a onda de neoliberalismo iniciada nos anos 1980 faz com que a obra do alemão esteja mais atual do que nunca. Leia abaixo a entrevista, feita nesta semana em São Paulo:

CartaCapital: Na nova introdução de Os limites do capital,  o senhor escreve que o livro é mais relevante hoje do que ao ser lançado, há trinta anos. Por quê?
David Harvey: Porque a ascensão do neoliberalismo nos trouxe de volta ao tipo de mundo que Marx descreveu. Marx, e seu livro Capital, consideravam um mercado funcionando perfeitamente, como [o economista liberal] Adam Smith havia sugerido. Em 1970, nós não tínhamos mercados que funcionassem perfeitamente. Havia muita intervenção estatal, medidas de redistribuição de renda e um sistema forte de impostos, e a Europa tinha o estado de bem-estar social. Quando chegamos aos anos 1990, o que estava acontecendo era familiar e tinha um paralelo com o Capital de Marx.
CC: O interesse na obra de Marx tem crescido junto com sua relevância?
DH: Sim. Desde 2008, todo mundo percebeu que o capitalismo não é um sistema perfeito, e que não é a prova de crises. Marx é o principal teórico que explica como e onde a crise irrompeu, por isso há tanto interesse nele.
CC: O senhor se refere ao “direito à cidade” como o poder coletivo das pessoas nos processos de urbanização, conforme definido pelo sociólogo francês Henri Lefebvre na década de 1960. Como  a ideia de direito à cidade tem sido usada hoje em dia?
DH: Acho que o direito à cidade é um conceito genérico, e todo mundo tenta reivindicá-lo. Agentes imobiliários, financeiros e pessoas ricas têm feito isso. A questão é: quem consegue preencher esse conceito com seu significado particular? Para o direito à cidade ser parte de um movimento social efetivo, as populações marginalizadas e oprimidas têm de tratar desse tema como elas próprias o visualizam, para assim tomar controle do processo de urbanização. Em muitas partes do mundo o movimento dos trabalhadores tem se enfraquecido, e as revoltas urbanas emergiram como uma das arenas de luta anticapitalista. As pessoas estão buscando um jeito de olhar para essas lutas, e a ideia do direito à cidade agora é mais aceita como parte do que a esquerda deve fazer.
CC: Os protestos no Brasil começaram com o aumento na tarifa de ônibus em São Paulo. O senhor vê paralelo com o começo de outras revoltas ao redor do mundo?
DH: Há um grande descontentamento pelo mundo. O capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal. E essa diferença é vista de forma mais clara na qualidade da vida urbana. As pessoas estão vendo recursos enormes gastos em obras e projetos espetaculares, mas que não são gastos para melhorar a vida da maioria da população. Por isso, há uma raiva dissipada que é alavancada por um motivo particular. Aqui, foi a questão das tarifas. Em Istambul, o governo queria colocar um shopping no lugar de um parque tradicional. Nestes e outros casos, é uma insatisfação com a qualidade de vida urbana. E a insatisfação com a vida urbana é construída pelo capitalismo.
CC: Os protestos de junho no Brasil foram iniciados pelo Movimento Passe Livre, um movimento horizontal e sem líderes. Por que esse tipo de organização tem tido mais predominância nas revoltas dentro da cidade, em vez de partidos de esquerda e sindicatos?
DH: Os problemas urbanos criam um espaço onde novas formas de fazer políticas podem acontecer, como foi no caso das passagens de ônibus aqui no Brasil. Todas as organizações que tenho visto buscando a mudança na qualidade de vida urbana não usam as mesmas estratégias dos sindicatos e partidos políticos de esquerda, porque os problemas de organizar uma cidade são muito diferentes dos problemas de organizar um sindicato em uma fábrica. Então há uma forma nova de fazer política que está emergindo. E a esquerda convencional tem quer lidar com essas novas formas.
CC: O que faz esses grupos terem apoio do resto da população e gerarem revoltas urbanas?
DH: O que transforma o ativismo desses grupos em algo maior é a resposta policial, é o poder público usando a violência para responder a manifestações legítimas. E aí, claro, as pessoas vão às ruas contra a violência policial e movimento ganha uma nova escala. Isso aconteceu na Turquia e no Brasil. Há ainda uma tendência de militarizar a vida urbana cotidiana. E isso não acontece somente em manifestações, mas no dia a dia. Em Nova York, por exemplo, a polícia pode parar qualquer negro na rua e revistá-lo. Isso cria um grande ressentimento com as chamadas autoridades. Começam conversas sobre quem controla a cidade e porque estão a controlando desta forma. Isso se transforma numa questão geral, que passa pela classe média e às vezes até pessoas ricas se envolvem, porque nem eles querem viver numa sociedade tão autoritária.
CC: No Chile, líderes de revoltas por uma educação pública foram eleitos para o Parlamento. Outros países não tiveram essa migração das ruas para os gabinetes. Como você vê a relação entre esses movimentos e a política institucional? DH: Não vejo as instituições políticas respondendo ativamente a este novo jeito de fazer política. Mas também não acho que esses movimentos saibam o que fazer. A resposta à eleição de pessoas como Camila Vallejo, por parte de alguns estudantes do Chile, foi dizer que os eleitos não seriam capazes de fazer nada no parlamento, e a mudança de verdade teria de vir das ruas. Mas acho que sair totalmente do Parlamento não seria bom. Há certo cinismo na esquerda. Além disso, há também uma concepção ideológica de anarquistas e autonomistas de que se candidatar a uma vaga seria uma traição do seu modo de fazer política. Acho isso uma pena, porque nós precisamos de todas as possibilidades de ativismo agora.
CC: Mas, com as atuais limitações dos sistemas políticos, para que serviria a ação dentro da institucionalidade?
DH: Acho importante que a ação direta seja sempre acompanhada por gente próxima às entranhas do poder estatal. Assim, por exemplo, seria possível mitigar o uso arbitrário de força estatal contra esses movimentos. Ou, ainda mais positivamente, o Estado possa ser reorientado para tomar ações efetivas contra a acumulação de capital por meio da urbanização.
CC: O senhor tem falado, nos últimos anos, da necessidade de unificar a esquerda e o ativismo descentralizado que têm surgido ao redor do mundo. O Senhor tem visto esse movimento acontecer? Como isso poderia ser feito?
DH: Lamento o fato de que a esquerda está ficando mais fragmentada do que unificada, porque há problemas que necessitam de ações globais, como o aquecimento global e outras arenas onde a política está sendo trabalhada mundialmente. Atualmente há uma grande receptividade a novas ideias, mas nós não temos uma boa forma organizacional para formar uma estratégia compreensiva e global. Acho que isso é algo que precisaríamos, mas como fazemos isso? Se eu tivesse a resposta, não estaria aqui falando contigo.

Fonte: cartacapital.com.br. Acesso em 02/12/2013.