domingo, 24 de março de 2013

POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO RURAL PÓS 1990

RESUMO

Política Pública e Agricultura Familiar: Uma leitura do Pronaf

A opção da agricultura familiar como protagonista de um projeto de desenvolvimento rural representa um avanço em relação às ações públicas voltadas para o campo até então, mas certas noções presentes no texto do Pronaf alertam para riscos que esta política pode representar para a agricultura familiar.
Eleger a agricultura familiar como protagonista do desenvolvimento rural é um indicativo de uma mudança de paradigma, já que há décadas a agricultura familiar esteve relegada a segundo plano tendo sobrevivido em meio a competição de condições e recursos orientados a favorecer a grande produção e a grande propriedade.
Segundo o Pronaf a agricultura familiar tem função social dirigida ao desenvolvimento econômico do país sustentado nas noções de produtividade e rentabilidade crescentes tendo como conseqüência a melhoria na qualidade de vida da população rural.
O Pronaf teve como referências experiências européias principalmente da França que no pós-guerra elegeu a agricultura familiar como forma de produção implementando a modernização da produção agrícola e da sociedade rural, enquanto nessa mesma época o Estado brasileiro orientou-se para a modernização econômica e tecnológica da grande produção.
Outro ponto a ser destacado é que na França os investimentos eram geralmente a fundo perdido ou de proteção ao agricultor enquanto no Brasil a viabilização das condições de produção tem como objetivo reembolsar os investimentos públicos adequando o retorno dos investimentos a capacidade de pagamento do agricultor familiar.

Modernização e Agricultura Familiar

Cabe destacar que na França a agricultura repousa historicamente na produção familiar, o que justifica a decisão política de processar a chamada “industrialização” da agricultura sobre as bases de uma força de trabalho e de um capital essencialmente familiar.
Outro ponto é que a idéia de desenvolvimento contida no Pronaf embora associe o aumento da capacidade produtiva à melhoria da qualidade de vida, a noção de sustentabilidade não implica na opção por tecnologias alternativas ao padrão que vem sendo adotado até então. Torna-se difícil reconhecer a real possibilidade do governo em romper com as práticas pautadas na tecnificação para se orientar na direção de um novo paradigma de desenvolvimento rural.
O Pronaf valoriza a agricultura familiar como segmento gerador de emprego e renda de modo a estabelecer um padrão de desenvolvimento sustentável, por outro lado, qual forma de produção familiar teria a capacidade de realizar absorção de mão de obra, mantendo ao mesmo tempo a competitividade da economia sendo que na França se implementou políticas públicas como objetivo de diminuir a população rural e aumentar o padrão de vida do agricultor destacando-se por exemplo um programa educacional para orientar os filhos de agricultor a setores econômicos não agrícolas.

Agricultura familiar e desenvolvimento econômico

O governo reconhece a capacidade da agricultura familiar de se adaptar a situações diversas e de contribuir para o desenvolvimento econômico em condições de competitividade, ainda que sem lucro e renda. O incremento da produtividade como meta nos leva a velha fórmula desenvolvimentista: aumento da produção = diminuição de preço no mercado = competitividade. É contraditória a adoção de um modelo de intervenção na agricultura familiar atrelado à lógica do mercado e centrado no aumento da capacidade produtiva.
Torna-se indispensável à implementação de medidas que organizem o mercado e garantam preço para agricultura familiar, caso contrário, ela permanecerá a margem do processo de desenvolvimento econômico, em situação extremamente desfavorável devido a incapacidade de competir em espaços sociais sob a hegemonia da grande empresa e dos grandes negócios agroindustriais.

O modelo de agricultura familiar e o verdadeiro agricultor

Outro aspecto relevante é o caráter excludente dos critérios para se identificar o agricultor familiar beneficiário desta política. Nestes termos são considerados beneficiários os agricultores familiares reconhecidos como em transição, que possuam amplo potencial de viabilização econômica. Alguns requisitos indispensáveis é a utilização do trabalho direto seu e de sua família e que 80% da renda seja originadas da exploração agropecuária e/ou extrativa.  Os critérios de exclusão estão fortemente sustentados na noção, em construção, do verdadeiro agricultor, profissional com capacidade empresarial apto para encontrar na atividade agrícola a fonte da quase totalidade da renda familiar.
Neste sentido instituir o bom agricultor como aquele que aufere a renda familiar quase exclusivamente da atividade agrícola, implica excluir as possibilidades de combinar a agricultura com outras fontes de renda que, em alguns casos, são indispensáveis a continuidade da própria atividade agrícola e, portanto fundamentais para a retenção da mão-de-obra no campo.
A pluriatividade deve ser considerada para manter a população no campo e também viabilizar as pequenas unidades produtivas que não conseguem sustentar-se exclusivamente da produção agrícola, é também importante não esquecer que a especificidade da produção agrícola implica distinguir tempo de trabalho do tempo de produção, o que atribui outros significados ao trabalho não-agrícola exercido no quadro da unidade de produção familiar.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

MARIA JOSÉ CARNEIRO. Estudos Sociedade e Agricultura, 8 de abril de 1997.

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