RESUMO
Análise da evolução da economia
mundial entre a Segunda Grande Guerra e o final do século vinte observando os
efeitos geográficos a ela relacionados.
Dois processos de grande impacto:
a) crescimento e desarticulação da economia americana e a
concomitante emergência competitiva da Ásia Oriental;
b) tentativa de reafirmação dos Estados Unidos e suas repercussões
sobre: o padrão de localização dos investimentos asiáticos; a organização do
espaço urbano e regional desses países; os fluxos internacionais de comércio e
capital, todos concorrendo para a recente crise econômica asiática.
Introdução
Três processos principais
observados na economia mundial na segunda metade do século XX:
a) perda de capacidade competitiva da economia norte-americana a
partir do final dos anos sessenta, com tentativa de recuperação desde meados
dos anos 80;
b) emergência de novas regiões e/ou países industriais com forte
poder competitivo, com destaque para a Ásia Oriental, que, todavia foi tomada
por violenta crise no ano de 1997;
c) processo de internacionalização financeira e, imbricado a ele,
avanço das políticas orientadas pelo livre jogo das forças de mercado, afetando
diversos países.
A análise desse conjunto de
mudanças requer, pois que se atente quanto aos aspectos metodológicos para duas
noções principais:
a) a noção de dinâmica cíclica do desenvolvimento capitalista,
ancorada na perspectiva schumpeteriana dos ciclos tecnológicos de longa duração
(os Kondratieffs, de 50 anos);
b) a noção de formação econômico-social, tributária do pensamento
marxista e condição sine qua non para
apreensão das especificidades e determinações nacionais e/ou regionais da
redefinição geoeconômica em curso.
Expansão e crise da economia norte-americana
É preciso avaliar as condições
setoriais desse crescimento ao longo do referido ciclo, notadamente dos setores
de bens de consumo duráveis, bens de produção (em especial intermediários) e
aqueles ligados as compras estatais (ou ao Keynesianismo bélico, na expressão
de Tavares & Melin, 1997). É isso que nos permitirá entender o
desenvolvimento tecnologicamente desigual do capitalismo americano.
Com efeito, depois de promover
uma ampla revolução no consumo de massa na primeira metade deste século
(Castro, 1979), lançando os rudimentos do que ficou conhecido como padrão
fordista de crescimento, marcado, pois por um largo acesso dos trabalhadores
aos bens de consumo duráveis.
As soluções encontradas para tais
limitações ao crescimento no setor dos duráveis de consumo seguiram dois
caminhos principais:
- Por um lado, fora possível
contar com inovações de produtos importantes que dinamizaram sobremaneira o
setor.
- Porém as linhas de resistência
ao crescimento dos duráveis de consumo foram também rompidas através de um
movimento de exportação de capitais, marcado por fortes investimentos externos
diretos ao continente europeu, uma linha de ruptura, diga-se, não tão dinâmica
tecnologicamente.
Significa apenas uma mudança “de
superfície”, sem grandes alterações tecnológicas na estrutura produtiva. (Mamigonian,
1982) chamou de crescimento extensivo (obsolescência dos produtos,
multinacionalização, etc.) da economia americana, por oposição a um crescimento
de corte mais intensivo, ditado pelo dinamismo tecnológico.
No caso do movimento de
exportação de capitais, a perda de dinamismo parece, porém, condicionada
igualmente as determinações das formações sociais onde vão ocorrer os
investimentos.
A Ásia Oriental: emergência competitiva das mais recentes
industrializações tardias
A desaceleração tecnológica e a
perda de dinamismo competitivo de importantes setores da economia americana
estiveram associadas com a adesão aos princípios do livre mercado (a quase
completa ausência de mecanismos institucionais que enquadrassem a empresa
privada na consecução de objetivos macroeconômicos).
A industrialização e a crescente
competitividade asiática é ininteligível se não atentarmos para o papel do
Estado e de diversos mecanismos institucionais que literalmente negam a ação
dos mercados e da empresa privada.
Crise da Ásia (ou tentativa de reafirmação da hegemonia americana?)
Políticas de reafirmação
econômica e geopolítica implementadas pelos EUA desde há aproximadamente um
quarto de século.
É imperioso admitir também que a
ação especulativa internacional desses agentes (no mercado de ações, de títulos
imobiliários, etc) é em boa medida o resultado de políticas específicas da
potência norte-americana com o objetivo de se reposicionar no cenário econômico
mundial (Tavares e Melin, 1997).
A crise: periodização de seus determinantes e efeitos
geográfico-econômicos
Após o estouro da grande crise
mundial da primeira metade dos anos setenta, os Estados Unidos conheceram três
grandes períodos de política econômica.
A segunda metade dos anos
setenta, marcada pelo governo Carter, teve por característica básica uma
administração Keynesiana da crise, favoreceu um forte crescimento econômico que
permitiu aos EUA enfrentar com algum sucesso o problema do emprego no período
(Lipietz, 1988). Outrossim, tal expansão significou alimentar a economia
mundial, fornecendo mercado, por exemplo, para a expansão japonesa e também
para diversos capitalismos tardios do Terceiro Mundo mas, principalmente
significou lançar nas áreas da OPEP, os recursos que vão dar lugar aos chamados
petrodólares.
Todavia, a partir do final dos
anos setenta, a elevação das taxas anuais de inflação para qual contribui o segundo choque do
petróleo associada ao retorno do partido republicano ao poder parece ter
motivado uma mudança de rota importante, cujo efeito sobre a economia mundial
será de grandes proporções.
O estopim da crise
Ora, todos esses elementos que
concorreram para a redefinição geográfico-econômica que vimos tratando
(mudanças nos fluxos financeiros e comerciais, na localização dos investimentos
industriais, na estruturação do espaço urbano e regional), são os mesmos que
ajudam a entender a violenta crise capitalista de 1997, que tomou de cheio
parte importante da Ásia Oriental e acabou se projetando mesmo sobre a Europa
do leste e o Brasil.
Dois elementos cruciais
deflagradores da crise asiática, manifestado em fortes saldos externos
negativos (comerciais e de todo o balanço de pagamentos) e/ou na derrubada dos
mercados acionários por efeitos de ataques especulativos. São eles:
a) uma forte superprodução de
bens industriais;
b) uma violenta crise do sistema
bancário regional.
Conclusão: o milagre da Ásia acabou?
Mesmo os países que foram tomados
por ataques especulativos não estão fadados a sucumbir economicamente, como
querem fazer crer os acólitos do mercado de todos os quadrantes. Com efeito, a
crise foi essencialmente especulativa e de excesso de capitais. Por baixo desse
processo há em cada país industrialmente bem sucedido da região, uma base
produtiva altamente moderna, e que ademais conta, entre seus principais ativos
competitivos, com práticas de produção e gestão acumuladas por um longo tempo
de aprendizagem (Amsden, 1990; 1996).
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