Qualquer lugar do planeta está inserido no mundo contemporâneo ou globalizado, pois mesmo que o lugar não aceite esse novo sistema ou ele não se integre totalmente assim mesmo o lugar já se conectou seja por via da ação/reação ou das influências recebidas. Isto implica dizer que a relação de forças dicotômicas entre o velho e o novo sistema ou a tentativa de imposição faz a conexão entre o lugar e o novo modelo que se apresenta, pois são estabelecidos fluxos que mesmo não aceitos tampouco integrados totalmente permeiam todo o lugar deixando traços característicos do novo.
É verdade afirmar que nem todo lugar é inserido de forma homogênea no novo contexto, ou seja, no mundo globalizado, pois nem todo lugar apresenta as condições necessárias para a inserção do novo modelo, tendo em vista que existem as reações específicas de cada lugar, tanto do lado social, representado pelo seu interesse em aceitar o novo ou o próprio interesse do novo, através de seus agentes, em integrar-se ao lugar representado pelas potencialidades requeridas ou do próprio ambiente natural que o lugar possa oferecer.
Florianópolis tem suas especificidades e determinações, seja por suas riquezas paisagísticas, por sua condição de ilha, por ser a capital, por sua colonização açoriana ou pelo fluxo de pessoas vindas de todas as partes do Brasil e do exterior, além de ter uma formação sócio-espacial particular apesar da tentativa de massificação do modo de produção capitalista.
Com base na situação de centro político-administrativo e no desenvolvimento do turismo, sobretudo a partir da década de 70, é que traçaremos um panorama da cidade, sua inserção e a função desempenhada no mundo contemporâneo.
A INSERÇÃO DE FLORIANÓPOLIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
A inserção de Florianópolis no mundo contemporâneo globalizado teve sem dúvida a contribuição da superestrutura política por ser a capital do estado e sediar toda a estrutura estatal, no ramo de serviços, seja pela administração direta como também através dos mais diferentes órgãos governamentais e pelas empresas públicas, das instituições de ensino como a UFSC, a UDESC, o CEFET, além de toda a estrutura legislativa e judiciária, possibilitando a visão de como a estrutura Federal, Estadual e Municipal estão inseridas neste lugar com toda a sua superestrutura e infra-estrutura econômica formando e dinamizando a formação econômica e social do lugar possibilitando ainda através da massa de servidores públicos a sustentação de um comércio diversificado e com vigor para atender toda esta demanda instalada, aliada a isso o ambiente natural propício ao turismo verificado pelas inúmeras praias principalmente do norte da ilha que abarca 40% da população da cidade.
Ao ser sede do governo estadual e dos órgãos federais, a cidade foi inundada por uma massa crescente de funcionários públicos, se tornando inclusive centro irradiador atraindo desta forma todos os tipos de interesse econômico particulares seja no ramo da saúde como clínicas e laboratórios, na educação com escolas, faculdades e institutos de pesquisa e desenvolvimento, na administração, segurança e conservação patrimonial, no ramo de serviços contábeis, jurídicos, arquitetônicos, de planejamento atraindo um grande contingente de firmas e homens em busca de oportunidades. Claro que todo esse contingente populacional em contraposição não deixaria de formar as favelas que fazem parte da paisagem florianopolitana, pois o sistema necessita e absorve, embora de forma precária, também a mão-de-obra pouco ou não qualificada tendo em vista que o comércio, o turismo, a construção civil e o ramo de serviços na área de segurança e conservação patrimonial se apóiam nesta classe da população que produzem, consomem, utilizam os serviços públicos essenciais e fazem a engrenagem social se movimentar, além do sentimento de aversão e ao mesmo tempo de pertencimento do habitante local, muito bem utilizada pelos dirigentes locais com a criação por exemplo da figura do manezinho, que não obstante vê essa invasão que nada melhora sua vida, além de aumentar seu custo de vida
Florianópolis atrai várias pessoas por ser, entre outros fatores, uma cidade média para os padrões de grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre que fogem do tumulto e da saturação do mercado, dos vizinhos do Mercosul pelas vias do turismo e demais estrangeiros enfeitiçados pela propaganda promovida pelas elites políticas locais e pelas oportunidades vislumbradas.
O PAPEL DO SETOR TERCIÁRIO
O setor terciário é o mais significativo em Florianópolis e não poderia ser diferente, pois sendo a capital naturalmente os serviços públicos dominariam a estrutura econômica dando enorme impulso ao comércio de bens de consumo, aliado a isto estão os serviços de caráter privado que pela dinâmica da economia e da estrutura urbana, além do alto poder aquisitivo da população permeiam toda a economia nas mais diferentes áreas nos ramos da educação, saúde e segurança.
Além de ser a capital, a cidade é detentora de belas paisagens naturais, aliada ao investimento em infra-estrutura à ilha de Santa Catarina tem no setor de turismo uma de suas bases econômicas atraindo turistas de várias partes do mundo projetando Florianópolis no cenário internacional. Por outro lado, está em voga o turismo de eventos como reuniões e simpósios empresariais, eventos artístico-culturais como apresentações teatrais, shows, eventos esportivos como, por exemplo, a etapa mundial de Surf do WCT (Etapa do Mundial de Surf) na praia da Joaquina, o Ironman, corridas automobilísticas, entre outros.
Um dado importante é quanto a participação dos serviços no PIB do município que corresponde a 75 % ou seja, 1.844,45 milhões contra 608,99 milhões do setor industrial no ano de 2003 segundo dados por município do IBGE, enquanto o setor de serviços representa em São José 57%, Palhoça 53% e Biguaçu 49% sempre para o mesmo ano, demonstrando com o setor terciário representado pelos serviços, comércio e turismo são significativos em Florianópolis.
O turismo em Florianópolis começou efetivamente a partir da década de 70 com a realização de obras de infra-estrutura por parte do governo e o apoio da elite local interessada no lucro que essa atividade geraria. Em pouco tempo a capital apresentou um grande crescimento populacional com a chegada de pessoas de várias partes do Brasil e do exterior interessadas em investir, trabalhar, morar ou apenas visitar no período de verão atraídas pela propaganda que era feita da ilha e, sobretudo pela possibilidade de ganhos. Claro que o setor de turismo não foi o único atrativo visto que a capital centraliza os serviços públicos, as empresas públicas e duas universidades governamentais como já foi mencionado.
Com a chegada desse contingente de pessoas foi alavancada a “indústria do turismo” com o estabelecimento de empreendimentos turísticos, valorização imobiliária, principalmente na orla marítima provocando degradação ambiental e a retirada dos meios de vida do habitante local que retirava seu sustento do mar, seja pela compra do seu imóvel, privatização das praias ou pela poluição das águas tendo em vista que o poder público passou a dar atenção especial aos grandes investidores em detrimento do pescador/agricultor.
Anteriormente ao avanço do turismo, a capital catarinense já tinha sido palco de diversas alterações a partir da década de 60, entre elas, está à formação de um grande contingente de funcionários públicos e de estudantes que chegaram a cidade com a instalação de órgãos estaduais e federais como a Eletrosul, a Universidade Federal de Santa Catarina, a construção de novas pontes ligando a ilha a parte continental, a construção da BR 101, aproximando Florianópolis dos estados do Sul e do restante do Brasil, e a interligação definitiva do litoral a região oeste catarinense através da BR 282. Tudo isso permitiu um rápido desenvolvimento e criação de uma imagem externa da capital catarinense como uma cidade progressista e ao mesmo tempo bonita e receptiva.
Só para se ter uma idéia na capital havia em 1970, de acordo com dados do IBGE, pouco mais de 143 mil habitantes, número que subiu para 331 mil em 2000 e chega a 385 mil em 2006.
A REGIÃO METROPOLITANA
Florianópolis, por ser a capital e pelo seu vigor econômico se torna centro irradiador contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento de municípios como São José, Palhoça e Biguaçu que tem no setor industrial uma de suas bases econômicas mais desenvolvidas, representando 41% do PIB em São José e Palhoça e 43% em Biguaçu, segundo dados de 2003 do IBGE. Tal desenvolvimento foi possível por estarem situadas ao lado de Florianópolis, apresentarem terrenos mais baratos para este fim, investimentos públicos na criação dos distritos industriais com infra-estrutura pela sua localização as margens da BR 101 como também o desenvolvimento populacional e em contrapartida da construção civil tendo em vista que as pessoas e empresas encontraram terrenos bem mais baratos nestes municípios.
Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçú formam a região conurbada da Grande Florianópolis com uma população aproximada de 750 mil habitantes e uma produção econômica na ordem de 6 bilhões de reais no ano de 2003.
Sendo Florianópolis a capital e sede dos órgãos federais recebeu investimentos em infra-estrutura que deveria em tese ser responsabilidade do município dinamizando a estrutura urbana do lugar possibilitando o seu crescimento a reboque da estrutura político-administrativa do estado e da união, além de receber diversas pessoas de várias partes do Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe ressaltar que o mundo contemporâneo teve início com o modo de produção capitalista e que fatalmente Florianópolis estaria inserida não só por ser sede do governo estadual e dos órgãos federais, bem como receptora de investimentos de outros estados e até internacionais além do recebimento de milhares de turistas todos os anos, mas sim porque todo o lugar do mundo está inserido passiva ou ativamente, total ou parcialmente tendo em vista que o meio técnico científico informacional se encarregou disso. A influência da estrutura econômica já está em todo lugar, em todos os continentes e até mesmo na sociedade mais tradicional como a indígena ou a dos esquimós e até no mais simples homem da terra nem que seja sofrendo as conseqüências da estrutura política e econômica e da inserção global no mundo contemporâneo.
É necessário salientar que Florianópolis foi inserida no cenário mundial não somente por ser a capital, mas por ser sede dos órgãos federais, bem como pelo turismo, facilitado pelas condições naturais e investimento em infra-estrutura por parte do governo do estado, além de receber inúmeros investimentos privados e pessoas de outras partes do Brasil e do exterior nas áreas da saúde, da educação, tecnologia, serviços contábeis e jurídicos configurando um mosaico étnico e uma formação social bastante diversificada e ao mesmo tempo específica.
Florianópolis não ficou somente desempenhando a função de capital, pela possibilidade através das condições naturais, alavancou o desenvolvimento do turismo lançando inclusive as bases para o desenvolvimento do turismo de eventos, além de ter se tornado pólo da indústria de tecnologia possibilitado pela estrutura econômica e da construção civil devido ao forte crescimento urbano verificado, sobretudo nas últimas décadas.
* O ramo tecnológico é o primeiro em Florianópolis sendo que o turismo, comércio de demais serviços ficam atrás.
FONTES CONSULTADAS
SOUZA, Maria Adélia Aparecida de. Conexões Geográficas: Um ensaio metodológico. Boletim Paulista de Geografia, nº 71.
SANTOS, Milton. Espaço & Método. São Paulo: Editora Nobel, 1985.
SANTOS, Milton. Sociedade e Espaço: a formação social como teoria e como método. Antípode, nº. 01, 1977.
SILVA, Adriano Larentes da. Migrações Contemporâneas e Construção de identidades em Florianópolis/SC. Artigo Acadêmico, 2000.
OURIQUES, Helton Ricardo. Turismo em Florianópolis: Uma crítica à “Indústria Pós-Moderna”. Editora da UFSC, Florianópolis, 1998.
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