Considerada por alguns como uma das mais antigas disciplinas acadêmicas, a geografia surgiu na Antiga Grécia, sendo no começo chamada de história natural ou filosofia natural. Grande parte do mundo ocidental conhecido era dominada pelos gregos, em especial o leste do Mediterrâneo. Sempre interessados em descobrir novos territórios de domínio e atuação comercial, era fundamental que conhecessem o ambiente físico e os fenômenos naturais. O céu claro do Mediterrâneo facilitava a vida dos navegantes gregos, sempre atentos s características dos ventos, importantes para sua navegação em termos de velocidade e segurança. Sobre tais experiências, os gregos deixaram para as futuras gerações escritos que contavam a sua vivência geográfica. Estudos feitos acerca do rio Nilo, no Egito, detalhavam, entre outras coisas, seu período de cheia anual. No século IV a.C., os gregos observavam o planeta como um todo. Através de estudos filosóficos e observações astronômicas, Aristóteles foi o primeiro a receber crédito ao conceituar a Terra como uma esfera. Em sua especulação sobre o formato da Terra, Strabo acabou escrevendo um obra de 17 volumes, 'Geographicae', onde descrevia suas próprias experiências do mundo - da Galícia e Bretanha para a Índia, e do Mar Negro à Etiópia. Apesar de alguns erros e omissões em sua obra, Strabo acabou tornando-se o pai de geografia regional. Com o colapso do Império Romano, os grandes herdeiros da geografia grega foram os árabes. Muitos trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe. Ocorreram, no entanto, a partir daí, algumas regressões: após o ano de 900 d.C., as indicações de latitude e longitude já não apareciam mais nos mapas. De todo modo, os árabes acabaram recuperando e aprofundando o estudo da geografia, e já no século XII, Al-Idrisi apresentaria um sofisticado sistema de classificação climática. Em suas viagens à África e à Ásia, outro explorador árabe, Ibn Battuta, encontrou a evidência concreta de que, ao contrário do que afirmara Aristóteles, as regiões quentes do mundo eram perfeitamente habitáveis. Já no século XV, viajantes como Bartolomeu Dias e Cristóvão Colombo redescobririam o interesse pela exploração, pela descrição geográfica e pelo mapeamento. A confirmação do formato global da Terra veio quinze anos mais tarde, em uma viagem de circunavegação realizada pelo navegador português Fernando Magalhães, permitindo uma maior precisão das medidas e observações. Grandes nomes se empenharam no estudo das várias áreas da geografia. A geografia social, por exemplo, recebeu a dedicação de nomes como Goethe, Kant, e Montesquieu, preocupados em estabelecer em seu estudo a relação entre a humanidade e o meio ambiente. A geografia recebeu novas subdivisões, entre as quais, a geografia antropológica e a geografia política. Por volta do século XIX, surgia a Escola Alemã, apresentando o determinismo, que suportava a idéia de que o clima era capaz de estimular ou não a força física e o desenvolvimento intelectual das pessoas. Assim, afirmava que nas zonas temperadas a civilização teria um desenvolvimento mais elevado do que nas quentes e úmidas zonas tropicais. Já nos anos 30, a Escola Francesa lançava o possibilismo, que afirmava que as pessoas poderiam determinar seu desenvolvimento a partir de seu ambiente físico, ou seja, sua escolha, determinaria a extensão de seu avanço cultural. Chegaram os anos 60 com todas as suas revoluções, e o desejo de fazer da geografia um estudo mais científico, mais aceito como disciplina, levaram à adoção da estatística como recurso de apoio. No final da década, duas novas técnicas de suma importância para a geografia começavam a ser desenvolvidas: o computador eletrônico e o satélite, dando nova ênfase à disciplina.
STRABO
Geógrafo e historiador grego, nasceu em Amaseia, Pontus (agora Amasya, Turquia). Strabo começou seus estudos com Aristodemus e em 44 a.C. foi para Roma estudar com Tyrannion, ex-professor de Cícero. Antes de deixar Roma ele concluiu sua monumental obra de 43 volumes intitulada 'Esboço Histórico' da qual só sobraram pedaços. Em 31 a.C. Strabo começou suas viagens na Europa, Ásia e África, tendo viajado quase todo o mundo conhecido da época, ele voltou a Roma em 17 d.C. e escreveu seu mais importante trabalho de 17 volumes intitulado 'Geographicae' (ou Geografia). Esta foi a primeira vez que surgiu a palavra Geografia. Os volumes parecem mais o que hoje conhecemos como guias e eram escritos para uso militar. Esta obra é o principal documento daquela época conservado inteiro (com exceção de partes do volume sete) até os dias de hoje.
ERATOSTHENES
Matemático, astrônomo, geógrafo e poeta grego, nasceu em Cyrene (agora Shahhat, Líbia). Em 240 a.C. ele se tornou bibliotecário-chefe da Biblioteca de Alexandria, ficando responsável na sua época pelo maior acervo sobre o conhecimento humano até sua data. Eratosthenes é mais conhecido hoje pelo seu preciso cálculo da circunferência da Terra (erro de menos de 5%) numa época aonde não se acreditava que a Terra seria redonda. Para chegar a tais cálculos Eratosthenes empregou seus conhecimentos de astronomia para determinar a latitude de Assuã e Alexandria no Egito, e mediu a distância entre elas, tendo notado que a imagem da sombra de uma torre de igual altura em Aswan e Alexandria tinha diferentes comprimentos numa mesma hora do dia, ele chegou a conclusão que a Terra era redonda e calculou com seus dados a sua circunferência. O seu mais importante trabalho foi um tratado sistemático sobre geografia; após ficar cego com quase 80 anos se suicidou por inanição.
PTOLOMEU
Astrônomo e matemático grego, viveu em Alexandria, Egito e era cidadão romano. Seu primeiro trabalho e o mais importante foi o 'Almagesti' (Grande Obra), traduzido para o árabe 500 anos depois. Nesta obra ele propunha o sistema de geocentrismo o qual descrevia a Terra no centro do universo com o sol, planetas e as estrelas rodando em círculos ao seu redor. Este trabalho de Ptolomeu influenciou o pensamento astronômico durante mais de mil e quinhentos anos até ser substituído pela teoria heliocêntrica de Copérnico. Para a geografia sua mais importante obra foi 'A Geografia', uma tentativa de mapear o mundo conhecido da época, que listava latitudes e longitudes de locais importantes acompanhadas de mapas e uma descrição de técnicas de mapeamento. Nesta compilação Ptolomeu pegou dados seus e de Hiparco, Strabo e Marinus de Tiro. Mesmo com informações imprecisas este trabalho foi a principal ferramenta de orientação geográfica até o fim da renascença.
HUMBOLDT, FRIEDRICH W. H. ALEXANDER VON
Geógrafo, naturalista e explorador alemão, nasceu em Berlim, mais conhecido pelas suas contribuições a geologia, climatologia e oceanografia. Ainda jovem Humboldt foi apresentado a um grupo de intelectuais (entre os quais Moses Mendelssohn) pelo seu tutor. Em 1879 ele foi para a Universidade de Gottingen, aonde estudou arqueologia, física e filosofia. O seu interesse por botânica e explorações foi intensificado ao conhecer Georg Forster, que acabará de voltar de uma viagem ao redor do mundo com o famoso Capitão James Cook. Após um ano Humboldt largou Gottingen para estudar geologia com A.G. Werner na escola de minas de Freiburg e depois veio a se tornar inspetor de minas do governo da Prússia. Uma farta herança de sua mãe o permitiu se dedicar aos seus interesses por exploração científica. Em 1799, Humboldt explorou durante 5 anos a América Latina, visitando países como Equador, Colômbia, Venezuela, México e Peru, além de parte da bacia amazônica. Durante esta viagem ele coletou muitos dados sobre clima, fauna, flora, astronomia, geologia e sobre o campo magnético da Terra. Durante sua estada no Peru fez precisas medições sobre uma corrente fria descoberta por ele que veio a ser chamada pelo seu nome e hoje é mais conhecida como Corrente do Peru. Após uma breve estada nos Estados Unidos da América foi morar em Paris aonde ficou até 1827, período durante qual escreveu uma obra de 23 volumes com as descobertas feitas na viagem. Em 1827 viajou para Berlim e foi nomeado assessor do rei da Prússia. Em 1829 por convite do Czar russo Nicolau I viajou aos Montes Urais e Sibéria para fazer estudos geológicos e fisiográficos. O resto de sua vida foi dedicada a escrever sua principal obra intitulada 'Kosmos' na tentativa abrangente de descrever o universo como um todo e mostrar que tudo era interrelacionado. Humboldt foi o primeiro a mapear pontos isotérmicos (linhas conectando pontos geográficos de mesma temperatura) e impulsionando assim o estudo da climatologia.
RITTER, KARL
Geógrafo alemão, conhecido como fundador da moderna ciência da geografia. Ritter mostrou ao mundo o princípio da relação entre a superfície da Terra e a natureza e os seres humanos, era defensor constante do uso de todas as ciências para o estudo da geografia. Foi professor de geografia na Universidade de Berlin de 1820 até sua morte; seu mais importante trabalho, 'Die Erdkunde' (Ciência da Terra, 19 volumes, 1817-1859), enfatizava a influência de fenômenos físicos na atividade humana.
RATZEL, FRIEDRICH
Geógrafo e etnólogo alemão fundador da geografia política moderna (ou geopolítica), o estudo da influência do ambiente na política de uma nação ou sociedade. Dele originou-se o conceito de 'espaço vivo' (Lebensraum), que se preocupa com a relação de grupos humanos com os espaços do seu ambiente. Ele lecionou na Univesidade de Munique entre 1875 e 1886, e desta data até sua morte foi professor de geografia da Universidade de Leipzig. Seu conceito de 'espaço vivo' foi depois usado pelo Partido Nacional Socialista (Nazista) para justificar a expansão germânica e a anexação de territórios que precedeu a segunda guerra mundial.
SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA
O estudo da geografia abrange, hoje, grande complexidade de aspectos. O desenvolvimento dos meios de comunicação, o crescimento demográfico, descoberta de novos meios de explorar a superfície terrestre, a evolução da técnica em geral, e a entrada do capitalismo trará profundas transformações na geografia, no plano da realidade e no plano do saber. A geografia começa a ser observada a partir do momento em que se necessita orientação com a ajuda da ciência às expedições que abrirão as portas das civilizações. A articulação entre cientistas e exploradores compõe a espinha dorsal dos trabalhos. Há uma intensa controvérsia sobre a matéria tratada pela geografia, sendo atribuídas múltiplas definições a esta ciência. Algumas delas são:
§ Estudo da superfície terrestre: esta definição apóia-se no significado etimológico do termo Geografia - descrição da terra, por descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências.
§ Estudo da paisagem: mantendo concepção da ciência de síntese, pois associa múltiplos fenômenos estando visíveis a aspectos visíveis do real. Possui duas variantes: a morfológica que é descritiva, sendo objeto de estudo elementos e formas; e a fisiológica que relaciona elementos e dinâmicas observando o funcionamento da paisagem, nessa perspectiva seria a idéia de organismo com funções vitais e elementos que interagem;
§ Estudo da individualidade dos lugares: compreendendo o caráter singular de cada porção do planeta, através da descrição, podendo ter uma visão ecológica. Propõe-se o estudo de uma unidade espacial passível de ser individualizada;
§ Estudo da diferenciação de áreas: através da individualização e comparação, propondo uma perspectiva mais generalizada e explicativa. São buscadas as regularidades da distribuição e das inter-relações dos fenômenos;
§ Estudo das relações entre o homem e a natureza: que podem ser as influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade, estudo das relações entre homem e natureza e com os dois tendo o mesmo peso, trabalhando com os fenômenos naturais e humanos.
§ Estudo do espaço: que só seria aceito se fosse concebido como um ser específico do real, com características e com uma dinâmica própria somente depois de demonstrar a afirmação efetuada. A expressão espaço aparece como vaga, ora estando associada a uma porção específica da superfície da Terra identificada seja pela natureza, seja por um modo particular como o homem ali imprimiu suas marcas, seja com referência a simples localização.
Como ciência social a geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte grau de parentesco, pois todos referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território.
O percurso: busca de entendimento nas formas de análise
A Geografia atual é um amálgama, mistura de elementos diversos que contribuem para formar um todo. Mesmo sendo um saber tão antigo quanto a própria história dos homens o atual discurso da geografia é o produto final dos embates que denominam as relações entre os imperialismos alemão e francês ao longo do século XIX, havendo uma luta entre concepções divergentes a respeito da forma como se dá a relação entre o homem e o meio. A Geografia nasce colada, de um lado, às lutas democráticas que se desenrolam nas cidades gregas e atravessam praticamente toda a sua história. A Geografia que irá desenvolver será a que veremos servindo ao Estado, concebida com relatos e mapas, e assim passará para a história como a Geografia. A relação feudalista /capitalista surge como questão do espaço, temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outro, estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã, e as primeiras colocações no sentido de uma Geografia sistematizada vão ser de Humboldt e Ritter, que criam uma linha de continuidade no pensamento geográfico. Dos romanos à "idade da ciência" (século XVIII-XIX) a geografia terá sua imagem alinhada como um inventário sistemático de terras e povos. A história da Geografia é um salto fantástico no tempo e no espaço, durante o correr dos séculos a Geografia não tem "escolas", então a partir do século XVIII desenvolver-se-ão as "escolas".
A Escola Alemã
A "escola alemã" que surge em duas vias de discussões: a "Geografia político-estatística" que define o papel da Geografia como sendo uma montagem do painel mais amplo e sistemático possível de uma dada conjuntura e a "Geografia pura" que assenta a tônica na unidade da base regional, sendo para ela critério os limites naturais do terreno. A Geografia não podia continuar sendo um quadro descritivo de uma dada situação conjuntural. O capitalismo alemão carecia de soluções práticas. O Kantismo foi decisivo nesta etapa, para Kant o conhecimento deve ser empírico havendo um "sentido interno" que revela o homem (Antropologia pragmática) e um "sentido externo", que revela a natureza (Geografia física). A Geografia é a localização do fenômeno no espaço. Outros importantes teóricos foram Humboldt e Ritter, sendo os precursores da Geografia moderna, eles vêem a Geografia como sendo a totalidade das coisas naturais e humanas, na qual os homens vivem e sobrevivem. Com Ratzel que o comprometimento da Geografia com os desígnios imperialistas da burguesia alemã mostrar-se-á com maior transparência, e dirá que o homem é que determina o seu meio natural (Determinismo). Humboldt possui conteúdos normativos explícitos, justificando a explicitação de seus próprios procedimentos de análise. O objeto geográfico é a contemplação da universalidade das coisas, de tudo que coexiste no espaço concernente a substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na terra. O estudo reconhece a unidade na imensa variedade dos fenômenos, descobrindo pelo livre exercício dos pensamentos e combinando as observações a constância dos fenômenos em meio as suas variações aparentes. O seu método era o empirismo raciocinado (intuição a partir da observação). A obra de Ritter é metodológica, define o conceito de sistema natural como a área delimitada dotada de uma individualidade. A Geografia deveria estudar estes arranjos individuais e compará-los. O homem seria o principal elemento, ele fazia um estudo dos lugares. Sua análise era empírica, como ele dizia era necessário caminhar de "observação em observação". Procurava chegar a uma harmonia entre a ação humana e os desígnios divinos, manifestos na variável natureza dos meios. Possuía uma proposta antropocêntrica (homem é o sujeito da natureza) e regional (estudo da individualidade), valorizando a relação homem-natureza. A importância maior da proposta de Ratzel reside no fato de haver trazido, para o debate geográfico, os temas políticos e econômicos, colocando o homem no centro das análises. Mesmo que numa visão naturalizante, e para legitimar interesses contrários ao humanismo. Da crítica a Ratzel sairá o elemento-chave que é a teoria do possibilismo.
A Escola Francesa
A "escola francesa" propõe uma Geografia informativa e descritiva, ensinada nas universidades como disciplina auxiliar do ensino da história, tendo também uma feição informe e utilitária. Um de seus expoentes foi La Blache que personificará a escola por espelhar em suas idéias melhor que qualquer de seus companheiros as aspirações do Estado Francês. A escola apoiar-se-á no funcionalismo por via do qual absorve o positivismo. La Blache discute a relação homem-natureza, não abordando as relações entre os homens. É por esta razão que a carga naturalista é mantida, apesar do apelo à História, contida em sua proposta. A geografia divide-se em Geografia Física (Humboldt) e em Geografia Humana (Ritter). Haverá a separação entre Geografia Geral (Humboldt) e Geografia Regional (Ritter). Há uma reciprocidade de influências entre o homem e o meio, no interior da qual a vontade humana dota o homem de ampla possibilidade de dominar seu meio.
A Escola Anglo-saxônia
A "escola anglo-saxônia" apresenta a "Geografia quantitativa e teorética", e o substrato que lhe dá substância é a mundialização do capital; possui base neopositivista (positivismo lógico). Seu caráter revolucionário aplica o salto para a fase explicativa. Falhando, pois era mais conhecido o "terreno" pessoalmente que computadorizado. Nós a aprendemos e percebemos por força do próprio cotidiano, fazemos parte do espaço geográfico. A Geografia é um saber vivido e apreendido pela própria vivência. Mas nem sempre a aparência é o real. A realidade esconde-se por trás da aparência, "a ciência seria desnecessária se toda essência coincidisse com a sua aparência". Pode sim, haver semelhanças formais, da aparência fazem parte os aspectos visuais e a essência não é só o empírico, mas também a realidade causal. Os métodos da Geografia sendo usada como geometria do espaço, não procura causas, consiste em uma sucessão de passos cujo fim é a inferência causal: coligir dados compará-los, classificá-los, estabelecer generalizações e extrair explicação causal.Estes passos podem ser resumidos a três sucessivas: observação, formulação de hipóteses e inferência de leis; pela via da comparação extraem-se as "leis" (generalizações) e pela via das correlações extraem-se os "padrões".
Temas para a análise da geografia
Pela concepção do todo Ritter diz que a Geografia deveria ser estudada em partes individualizadas, mas interligadas por finalidades, formando um todo. Humboldt diz que o todo é uma unidade de diversidade e a síntese era feita a partir da relação existente entre a vida orgânica e a inorgânica. A Geografia alemã usa sínteses sucessivas, usando uma temática dos métodos. Na "escola francesa" a noção do todo ganha maior refinamento teórico, mas a Geografia super-ramifica-se e terá de se conformar em ser uma "síntese das ciências de análise". A síntese só se obterá ao nível da Geografia Regional que Lacoste dirá que é um todo articulado segundo uma integração que só na sua ordem escalar (escala geográfica) pode ser apreendido. Na "escola anglo-saxônica" determinada faixa do todo será analisada através de dados estatísticos e matemáticos, sendo que o resultado seria dado através da perspectiva genérica e explicativa do pensamento geográfico. A sociedade é o tema verdadeiro da Geografia. Ela estudá-la-á a partir daquilo que é a expressão material visível da sociedade: o espaço. A Geografia está na forma historicamente diferenciada de existência na relação visivelmente distinta com as condições materiais de existência, na forma específica da ligação orgânica entre o homem e a natureza de posse do produto do trabalho, na articulação das relações de conjunto e nas transfigurações espaços-formais.
Do surgimento da crítica
O pensamento da Geografia tem origem na antiguidade clássica (Grécia). É um período de dispersão do conhecimento geográfico, onde é impossível falar dessa disciplina como um todo sistematizado e particularizado. Sodré denomina-o de pré-história da Geografia. A sistematização tem início no século XIX com pressupostos históricos que se objetivam no processo do avanço e domínio das relações capitalistas de produção. Os pressupostos se baseiam na necessidade de que a terra toda fosse conhecida para que fosse pensado de forma unitária seu estudo; dados referentes aos pontos mais diversificados da superfície deveriam estar levantados e agrupados em alguns grandes arquivos. Existem outros pressupostos relacionados à evolução do pensamento, como o movimento ideológico e a transição do feudalismo-capitalismo na valorização de temas geográficos pela reflexão da época; afirmação das possibilidades da razão humana, a aceitação pela existência de uma ordem, manifestação de todos fenômenos, passível de ser apreendida pelo entendimento e enunciada em termos sistemáticos. A efetivação da Geografia ocorria no período de decadência ideológica do pensamento burguês, em que a prática dessa classe, então dominante, visava à manutenção da ordem social existente. Certamente, não se pode negar que a sistematização da Geografia, representada por suas escolas colaborou de forma decisiva para se justificar tanto o imperialismo alemão quanto o imperialismo francês. Entretanto, a sistematização possibilitou uma melhor compreensão da sociedade da qual fazemos parte e até de nós mesmos. Conhecimento este que é aplicado até os tempos atuais. Como podemos observar, as escolas surgidas nesse contexto de formação do pensamento geográfico estavam realizando uma análise do espaço geográfico de forma "acritica". Os movimentos de renovação da geografia e a própria geografia crítica, conforme o próprio nome já diz, vieram com o intuito de remodelar, revitalizar a forma de se fazer geografia e de se analisar o pensamento geográfico como um todo. Este trabalho ocorreu por meio de importantes geógrafos com Milton Santos e Hartshorne que fizeram pesadas críticas ao sistema decadente, mas não se limitaram apenas a criticar como também trouxeram novas teorias e formas de se trabalhar a geografia. A geografia finalmente estava voltando a ver o mundo de forma atualizada e crítica como deveria ser. Iniciava-se uma nova forma de pensar...
Conclusão
Considerada por alguns como uma das mais antigas disciplinas acadêmicas, a Geografia surgiu na Antiga Grécia, sendo no começo chamado de história natural ou filosofia natural. A Geografia se propõe a algo mais que descrever paisagens, pois a simples descrição não nos fornece elementos suficientes para uma compreensão global daquilo que pretendemos conhecer geograficamente. Ir além das aparências significa considerar que por trás de toda paisagem temos, necessariamente, uma dinâmica particular que a determina, que a constrói, que a mantém com determinada aparência. Estudar geograficamente o mundo, no todo ou em parte, é buscar entender como e por que as paisagens apresentam as características que observamos. A geografia deve propor-se a investigar, principalmente, o modo pelo qual a sociedade produz o espaço geográfico.O espaço geográfico não se revela apenas na aparência das coisas, mas, sobretudo na investigação das razões que determinam essa aparência. Podemos compreender que o espaço geográfico inclui a Natureza e o homem. O positivismo foi de fundamental importância para a Geografia, pois sua sistematização ocorreu de acordo com os princípios positivistas, como o empirismo que deixou fortes influências na Geografia. Os principais autores foram Humboldt que usou o método do raciocínio através do empirismo e da observação; e Ritter que mostrou ao mundo o princípio da relação entre a superfície da terra e a natureza e dos seres humanos, era defensor constante do uso de todas as ciências para o estudo da geografia. Já sabemos que só a partir deles a Geografia se tornou realmente uma ciência e que sua sistematização proporcionou que virasse uma ciência acadêmica que pudesse ajudar em questões atuais. Impulsionada por um período de acúmulo de arquivos e dados geográficos referentes a novas terras, a sistematização se torna necessária, potencializando a sintetize de informações e formando-se quadros e teorias geográficas. Tal período ainda não fora totalmente racionalizado, ou seja, seu conteúdo possui alguns traços e marcas da irracionalidade característica de um processo em iniciação. O processo geográfico não se encontra parado, pelo contrário ele flui pelas correntes sucessivas a esse período buscando sua firmação e aprimoramento. A busca da articulação entre natureza e sociedade não foi tarefa fácil para os geógrafos. Na verdade, construir uma ciência de articulação na época em que surgiu oficialmente a Geografia pareceria ser como remar contra a maré, pois nesse período a visão de ciência dominante privilegiava a divisão entre ciências da natureza e da sociedade. A fragmentação científica é sem dúvida a força que promove o primeiro impacto na existência da Geografia. "A geografia serve antes de mais para fazer a guerra". Esta frase de Yves Lacoste aparentemente simples resume perfeitamente este trabalho. A guerra aqui tratada, não é apenas uma guerra de armas e de dominação, mas principalmente, uma guerra de idéias, de teorias, de ciência. A Geografia em sua busca de novos caminhos e de novas interpretações do mundo se posiciona de uma forma crítica, direcionando sua contribuição para resgatar a importância do espaço no mundo atual. Anteriormente esse papel era o de fonte de recursos, de fornecedor de condições que facilitassem o processo de desenvolvimento. Atualmente busca-se o papel ativo do espaço na sociedade, como uma das instancias sociais e não como um pano de fundo onde as relações sociais ocorreriam. (SANTOS, 1978).
Nenhum comentário:
Postar um comentário