RODRIGO ALVES DE BRITO
Bacharel e Licenciado em Geografia
Universidade Federal de Santa Catarina
- UFSC
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar as transformações
sócio-espaciais ocorridas no município de Tijucas decorrentes do processo de
modernização econômica desencadeado pelo Grupo USATI-PORTOBELLO. O artigo em
questão foi elaborado a partir da monografia com o mesmo título onde para o seu
desenvolvimento primeiramente foi realizada uma análise empírica e
posteriormente uma pesquisa bibliográfica, além de coleta de dados junto aos
principais institutos de pesquisas. A análise inicia na década de 70 com a
constituição do Complexo Agroindustrial açucareiro que provocou a reorganização
no uso do espaço agrário representando uma modernização da atividade canavieira
onde o capital acumulado com a produção de açúcar permitiu ao grupo
diversificar a atuação com a implantação da Cerâmica Portobello que representou
uma modernização das técnicas da indústria de transformação de minerais
não-metálicos desenvolvidas no município até então assentadas no ramo da
cerâmica vermelha dinamizando as atividades urbanas ligadas ao comércio e
prestação de serviços provocando o crescimento urbano do município, onde o
município passa a ter duas vidas de desenvolvimento. O Complexo Agroindustrial
açucareiro foi desativado em 1989, mas o Grupo USATI-PORTOBELLO continuou
dominando o espaço urbano através da Cerâmica Portobello que foi ampliando a
produção e o número de trabalhadores a cada ano.
Palavras-Chaves: Modernização Econômica; Formação
Sócio-espacial; Transformações sócio-espaciais; Grupo USATI-PORTOBELLO.
INTRODUÇÃO
O município de Tijucas vem crescendo
significativamente nas ultimas décadas, tanto no que se refere ao crescimento
populacional quanto econômico, onde o setor secundário e o terciário se tornam
cada vez mais dinâmicos e predominantes, típico de uma sociedade moderna. No
município o processo de modernização teve início em meados da década de 60 com
a modernização da agricultura criando as condições para que na década seguinte fosse
constituído o Complexo Agroindustrial açucareiro sendo que posteriormente tal
processo foi aprofundado com a instalação da Cerâmica Portobello.
Diante desse quadro surgiram algumas
indagações, tais como: Que lugar coube à formação sócio-espacial no processo de
modernização? Quais foram os principais agentes envolvidos? Quais foram os
efeitos da modernização na reorganização sócio-espacial do município? A
hipótese é que o principal agente de modernização tenha sido o Grupo
USATI-PORTOBELLO com a constituição do Complexo Agroindustrial açucareiro e a
instalação da Cerâmica Portobello, onde ambos vieram a representar uma
modernização das técnicas desenvolvidas no território provocando desta forma a
reorganização do espaço.
Este trabalho tem como objetivo geral: analisar
as transformações sócio-espaciais ocorridas no município de Tijucas decorrentes
do processo de modernização econômica desencadeado pelo Grupo USATI-PORTOBELLO.
O artigo em questão foi elaborado a partir da monografia[1]
com o mesmo título onde para o seu desenvolvimento primeiramente foi realizada
uma análise empírica do município quanto ao crescimento urbano, organização
espacial, dinâmica econômica e posteriormente foi realizada uma pesquisa sobre
a produção acadêmica que tratasse sobre as transformações sócio-espaciais ocorridas
no município de Tijucas e os referenciais teóricos sobre o conceito de
modernização com base na Sociologia, Economia e sobre a perspectiva geográfica
os estudos de Milton Santos.
Também foi realizada uma ampla pesquisa
bibliográfica sobre o município de Tijucas, aspectos geográficos, formação com
o início do povoamento e a evolução econômica, além de coleta de dados junto
aos principais institutos de pesquisas como IBGE, IPEA, além de sítios oficiais
como do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), MTE
(Ministério do Trabalho e Emprego), Secretaria Estadual de Planejamento,
Prefeitura Municipal de Tijucas e da própria Cerâmica Portobello.
O município de Tijucas passou por
diferentes fases de desenvolvimento onde a partir de meados da década de 60,
com o processo de modernização da agricultura, sobretudo da atividade
canavieira onde na década seguinte veio a ser constituído o Complexo
Agroindustrial Açucareiro que provocou uma significativa reorganização no uso
do espaço agrário. No processo de consolidação do CAI açucareiro e com o
capital acumulado o Grupo USATI-PORTOBELLO diversifica suas atividades
instalando uma indústria de revestimentos cerâmicos no final da mesma década,
apostando nesse setor devido o aumento da demanda interna com o crescimento
urbano acelerado.
Neste contexto, ocorreram transformações
sócio-espaciais no município de Tijucas com o processo de modernização
econômica acelerando o processo de urbanização, onde passaram a existir duas
vias de desenvolvimento, com a agroindústria açucareira e com a indústria
cerâmica de revestimentos. Em 1989, devido à extinção do IAA no ano anterior, o
grupo desativa a Usina de Açúcar Tijucas S/A e a refinaria localizada no
município de São João Batista provocando a dissolução do CAI açucareiro e da
atividade canavieira na sua área de influência. Já a Cerâmica Portobello foi
modernizada, sendo que no decorrer dos anos a ampliação da produção e do número
de trabalhadores, bem como a diversificação dos produtos foi uma constante.
ASPECTOS
GEOGRÁFICOS, FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO ECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS.
O município de Tijucas está situado no
litoral central do Estado de Santa Catarina, a 45 km da capital, fazendo
parte da Mesorregião da Grande Florianópolis conforme divisão adotada pelo
IBGE. O município compreende uma área de 276,62 km2 representando
0,29 % da superfície do Estado[2].
É banhado pelo Oceano Atlântico[3]
e cortado pelo Rio Tijucas tendo estes dois fatores naturais favorecido muito a
economia no passado, onde foi destaque o escoamento dos produtos agrícolas de
outras localidades do interior do vale pelo rio até a foz assumindo a navegação
de cabotagem grande importância.
O município tem um relevo em forma de
vale por onde corre o Rio Tijucas e seus afluentes formando a Bacia
Hidrográfica do Rio Tijucas que compreende uma área de 2.420 km2 integrando
o sistema de drenagem da Vertente do Atlântico. O Rio Tijucas, principal
componente desta bacia, apresenta em seu curso superior um perfil acidentado,
conseqüência da topografia movimentada e elevada e no curso inferior forma uma
extensa planície onde o rio descreve grandes meandros. Esta área de planície
possui solos de fecundidade adequada à cultura extensiva da cana-de-açúcar,
arroz, além de outras culturas alimentares (SANTA CATARINA, 1991).
Os
aspectos geográficos conferiram ao município de Tijucas uma situação em que
permitiu a ocupação da vasta planície do Vale do Rio Tijucas, possibilitando a
população desenvolver diversas atividades econômicas, inicialmente ligadas ao
setor primário assumindo o comércio grande importância devido à presença do
porto. Mais tarde a indústria cerâmica, a extração mineral e a agroindústria
canavieira assumiram importância aproveitando os recursos da região com a presença
da argila que permitiu a instalação de várias olarias e o cultivo de vastas
plantações de cana-de-açúcar por todo o Vale do Rio Tijucas.
É
no século XVII que começam as primeiras expedições de povoamento em direção ao
Sul do Brasil. Uma segunda fase da ocupação territorial ocorreria no século
XVIII, como resposta a crise do comércio ultramarino português, onde o litoral
catarinense passa a fazer parte mais efetiva do interesse político econômico da
metrópole onde também houve um reforço militar da costa catarinense com a
criação da Capitania de Santa Catarina em 1738, obrigando a vinda de todo um
corpo militar e civil (CAMPOS, 1991).
Em 1748 chegam às
primeiras levas de açorianos e madeirenses para povoarem a região. O objetivo da coroa com isso era utilizá-los para desenvolver a
região e ter um exército para uma eventual defesa. No litoral de Santa
Catarina, após a vinda dos açorianos, desenvolveu-se a pequena produção
mercantil, com base na pequena propriedade, diferentemente do restante do
Brasil onde predominava o latifúndio com a plantação de monoculturas voltadas
para a exportação e assentadas na mão-de-obra escrava. (CAMPOS, 1991).
O início do
povoamento do Vale do Rio Tijucas data de 1775 quando foi fundada uma povoação
na Enseada das Garoupas, hoje Porto Belo, pelo Coronel Pedro Antônio da Gama
Freitas que passou a distribuir moradores naquele local e também nos
territórios vizinhos como Camboriu, Bombas, Zimbros, Ganchos e Tijucas, onde
foram estabelecidos 60 casais (BOITEUX, 1928 apud ROUVER, 1988).
A ocupação da Foz do
Rio Tijucas ocorreu na margem esquerda por ser a margem mais alta, constituindo
a preferência dos primeiros moradores e a tendência a expansão da ocupação
urbana evitando-se desta forma os terrenos mais baixos e sujeitos aos
alagamentos e com difíceis condições de drenagem pela proximidade do lençol
freático, situados na margem direita, próximo a foz, impróprias para a ocupação
urbana.
Em Tijucas as terras foram exploradas em
minifúndios, utilizando a mão-de-obra escrava nos engenhos, na exploração
agrícola e madeireira, sendo grande o contingente de escravos, perdendo apenas
para Desterro, Laguna, São Francisco, Lages e São José. No ano de 1856 Leonce
Aube registrou que no Alto Tijucas existiam 112 escravos e na Foz do Tijucas
810 (ROUVER, 1988).
Em meados do século XIX iniciou outro
processo de colonização em
Santa Catarina para preencher os vazios demográficos e pelo
fato da economia se encontrar estagnada. Foi dado início à colonização em
regiões previamente escolhidas e as imigrações foram estimuladas ora pela
política oficial, ora por companhias particulares, chegando ao território
catarinense imigrantes alemães, italianos, além de outras nacionalidades, sendo
que alguns deles vieram residir no município de Tijucas.
A movimentação no porto dos produtos
oriundos do interior fez com que o povoado de São Sebastião do Tijucas se
desenvolvesse sendo elevada a condição de freguesia sendo denominada então de
São Sebastião da Foz do Tijucas Grande. Em 13 de junho de 1860 é lavrado o auto
de remoção e instalação da Câmara Municipal passando o município a se chamar
São Sebastião de Tijucas, que faria parte as freguesias de São João do Alto
Tijucas e de Porto Belo, além das localidades de Canelinha, Major Gercino, Nova
Trento e Leoberto Leal.
No ano de 1897 foi fundada a Usina de Açúcar
São Sebastião pelo Desembargador Antero Francisco de Assis, na localidade da Índia,
atual município de Canelinha, tendo sido a segunda fábrica do gênero instalada
no estado, sendo que a primeira havia sido instalada em Joinville. A cana-de-açúcar
era cultivada nos próprios terrenos da usina, mas como a cana-de-açúcar
plantada era insuficiente os agricultores vizinhos passaram a vender a cana-de-açúcar
para a usina (ROUVER, 1988).
No final do século XIX e início do
século XX, a produção agrícola do município de Tijucas supria um comércio
bastante desenvolvido. No meio urbano do município o comércio era dominado por
firmas como Gallotti, Bayer, Werner, Laus e Cherem que monopolizavam o comércio,
influenciando a economia local e dominado a política (CORRÊA, 1996).
As
duas primeiras firmas sobressaíram-se por serem também proprietárias de barcos,
que foram adquiridos em 1901 pelos coronéis Benjamim Gallotti e João Bayer,
dando início a Marinha Mercante de Tijucas. Favorecida pela sua posição
geográfica, o município de São Sebastião de Tijucas funcionou como porto de
escoamento da produção do interior do Vale, ao mesmo tempo em que recebia
produtos de outros municípios e distribuía no interior vinculando-se ao
comércio de importação-exportação que se desenvolvia no litoral de Santa
Catarina onde a economia do Vale girava predominantemente em torno do porto (GOMES;
BAYER, 2000).
Foi a partir do
século XX, com a presença abundante de argila na região, que foram sendo
instaladas cerâmicas vermelhas por todo o Vale do Rio Tijucas sempre
construídas em terrenos onde a matéria-prima aflorava para facilitar a extração
e o transporte. O primeiro documento a dar informações sobre a implantação de
cerâmicas no Vale do Rio Tijucas, datado de 1900, pertenceu a Joaquim José de
Sant’Ana, localizava-se no Moura, atual município de Canelinha. A instalação de
cerâmicas no Vale do Rio Tijucas se deu pelos conhecimentos técnicos trazidos
pelos imigrantes europeus e, sobretudo pela abundância de argila aflorante as
margens do Rio Tijucas (ROUVER, 1988).
Mesmo com todo o desempenho econômico
apresentado pelo município, tanto no meio rural com uma produção agrícola
diversificada quanto no meio urbano com o comércio de importação-exportação e a
presença de diversas indústrias, desde o início da década de trinta o meio
rural, com um número expressivo de engenhos de açúcar mascavo, vinha sendo
atingido pela política do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool)[4]
que para regulamentar a produção açucareira no país, estabeleceu preços, quotas
e registros de produção para a cobrança de impostos, atingindo duramente os
produtores de cana-de-açúcar (CORRÊA, 1996).
Em 1939, pelo Decreto Lei nº 1546 de 29/08/1939,
nos estados em que a produção fosse inferior a 100 mil sacas de açúcar anuais
poderiam ser instaladas novas usinas onde foi fixada a cota de produção em
50.000 sacas por ano somente para usinas que se organizassem sob forma de
cooperativas ou cuja matéria-prima (90%) fosse originária de fornecedores
independentes (CORRÊA, 1996).
O município tinha forte tradição
agrícola e a cana-de-açúcar era a cultura mais representativa desde o início da
ocupação. A cultura canavieira e a industrialização do açúcar foram iniciadas
com os açorianos que cultivaram a cana e construíram engenhos rudimentares para
a produção de melado e açúcar mascavo, além de alambiques para a produção de
aguardente (CORRÊA, 1996).
O município de Tijucas, embora
apresentasse dificuldades na produção de açúcar devido à regulação pelo IAA,
tinha uma agricultura diversificada, vivenciando um período de expansão no meio
urbano até que em 1940 veio a sofrer um grande impacto na sua economia. Com o
Decreto nº 5.758 de 11/06/1940, baixado pelo Governo Federal, que regulamentou
as capitanias e portos, foi posto fim a navegação de cabotagem no município de
Tijucas. O decreto dispunha sobre o efetivo das tripulações dos navios. Seu
numerário era tão elevado que se tornou anti-econômico, inviabilizando o
funcionamento da maioria dos pequenos portos em Santa Catarina
(CORRÊA, 1996).
Com as dificuldades enfrentadas no meio
rural devido às exigências do IAA que afetavam diretamente a sobrevivência da
população rural que se dedicava aos engenhos de açúcar e o fim do porto
afetando diretamente o comércio de produtos agrícolas o município veio a passar
por um período de estagnação onde várias pessoas sairiam do município em busca
de trabalho. No início dos anos 40 com a estagnação vivenciada pelo município
de Tijucas despertou a preocupação do líder político Sr. Valério Gomes que
administrava a prefeitura nesse período (1938-1941).
No ano de 1941 foi instituído o Estatuto
da Lavoura Canavieira (Decreto-Lei nº 3.855 de 21/11/1941) que estabeleceu
cotas diferenciadas para usinas e engenhos estabelecendo um conjunto de normas
de proteção ao fornecedor de cana-de-açúcar para as usinas. Com a instituição
desse estatuto o contexto do município se tornou favorável à instalação de uma
usina de açúcar, pois atendia às exigências do Decreto-Lei nº 1546 de
29/08/1939 e do recém instituído Estatuto da Lavoura Canavieira, para a
instalação de novas unidades industriais. Diante disso, o Sr. Valério Gomes, juntamente
com outros empresários locais, preocupados com a decadência do município e
diante da oportunidade tiveram a idéia de implantar uma usina para produzir
açúcar (CORRÊA, 1996).
Com a união das cotas de produção de
açúcar e as condições materiais possibilitada pelas políticas governamentais em
relação à produção canavieira em 1944 foi fundada a Usina de Açúcar Tijucas S/A
sendo que o distrito de São João Batista foi escolhido para instalação da
agroindústria açucareira, por ser na época um dos maiores produtores de
cana-de-açúcar da região e com o maior número de engenhos. As atividades foram
iniciadas em 1946 produzindo 6.000 sacas de 50 kg de açúcar cristal. A
instalação da Usina de Açúcar Tijucas S/A constitui um marco histórico para o
município provocando o desaparecimento dos antigos engenhos artesanais, pois a
usina absorveu a produção local do açúcar por ter adquirido as cotas de
produção dos proprietários de engenhos (CORRÊA, 1996).
A Usina de Açúcar Tijucas S/A passou por
muitas crises devido à concorrência com o açúcar nordestino, a sazonalidade da
cultura que permitia o funcionamento apenas seis meses por ano, desastres
naturais que afetavam o fornecimento de cana como geadas e enchentes, quebra do
maquinário, além da desistência de alguns fornecedores de cana que optaram por
outras culturas alimentares que apresentavam maiores rendimentos. No ano de 1956 a Usina de Açúcar
Tijucas S/A adquiriu a Usina de Açúcar Adelaide S/A localizada em Ilhota, então
as duas maiores agroindústrias açucareiras de Santa Catarina (CORRÊA, 1996).
No final da década de 50 e início da
década de 60 o município de Tijucas perdeu grande parte do seu território com o
desmembramento do distrito de São João Batista em 1958 transformado em
município ficando como seu distrito Major Gercino. Este fato é importante para
o município, pois além de perder parte do seu território também significou que
a usina não pertencia mais a Tijucas. Em 1962 foi a vez do desmembramento do
atual município de Canelinha.
Na década de 60 o Brasil passou a
participar intensamente do comércio mundial de açúcar devido a Revolução Cubana
que interrompeu o comércio de açúcar com os Estados Unidos favorecendo a produção
brasileira que ampliou suas exportações. Nessa conjuntura, em 1962 o IAA firmou
convênio com o Banco do Brasil para financiar projetos que visassem melhorar as
terras produtoras de cana para garantir um abastecimento regular da
agroindústria. A Usina de Açúcar Tijucas S/A, embora suprisse somente o mercado
da Região Sul, se beneficiou com a nova política governamental (CORRÊA, 1996).
Com as facilidades de financiamento,
para melhor atender as questões de ordem administrativa das Usinas de Açúcar
Tijucas e Adelaide, em 1964 foi instalada a holding[5]
em Florianópolis. Na
sua área de influência os financiamentos foram utilizados para melhorar a
produtividade canavieira tanto nas poucas unidades agrícolas da agroindústria
como nas terras dos fornecedores adaptando um serviço de assistência visando
reter o produtor para garantir o abastecimento, sendo que também organizou o transporte da produção com caminhões
fretados (CORRÊA, 1996).
Foi a partir daí que o município de
Tijucas, após a emancipação do Distrito de São João Batista, passa a fornecer
cana-de-açúcar para a Usina sendo influenciado diretamente pela agroindústria.
A cana-de-açúcar por ser um produto barato só era lucrativa se o raio de
atuação fosse de 10 km,
sendo que com o transporte fretado iria favorecer lugares mais distantes que
então passaram a fornecer cana para a agroindústria. Em Tijucas já haviam
produtores de fumo vinculados a agroindústria fumageira[6]
que passaram a concorrer com a Usina de Açúcar Tijucas S/A na busca por
produtores. Nos dois casos os agricultores eram subordinados onde a agroindústria,
seja fumageira ou canavieira, fornecia os insumos (sementes, fertilizantes,
inseticidas, etc) e a assistência técnica no processo denominado de integração.
Na década de 60 o município de Tijucas
contava com 68% da população vivendo no campo, onde as atividades primárias
assumiam papel de destaque na economia municipal. Porém na década seguinte 50,7%
da população passaram a viver na cidade, o que demonstra uma tendência a
urbanização, sendo que a construção civil já vinha crescendo em todo o Estado devido
ao desenvolvimento dos pólos industriais de Blumenau e Joinville, além do
crescimento populacional de Florianópolis estimulando o surgimento de novas indústrias
cerâmicas em todo o Vale do Rio Tijucas.
Já no meio
rural, com o aumento do preço do açúcar no mercado externo, a partir da década
de 70 o IAA intensifica o planejamento do setor canavieiro adotando novas
medidas políticas e econômicas criando o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar
(PLANALSUCAR) e o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira (1971)
cujo objetivo principal era melhorar a qualidade da matéria-prima aliada a
concentração e modernização industrial. As duas maiores agroindústrias de Santa
Catarina, Tijucas e Adelaide visando ampliar a quota de produção para atingir a
economia de escala e ser beneficiada pelo PLANALSUCAR adquiriram a Companhia
Açucareira Biguaçu S/A e a Usina São Pedro (Gaspar) as quais foram
incorporadas. Em 1971 ocorreu a fusão das agroindústrias Tijucas e Adelaide e
se constituiu o Grupo USATI (CORRÊA, 1996).
A partir daí
a cana-de-açúcar suprida pelos fornecedores tornou-se insuficiente aumentando a
capacidade ociosa das unidades industriais. Em 1972 o grupo
lança-se no mercado de terras visando expandir suas unidades produtivas para
produzir a matéria-prima da qual era dependente. Em 1973 foi instalada uma refinaria junto a Usina de Açúcar Tijucas
S/A, na qual passa a processar o açúcar demerara[7]
proveniente do estado de São Paulo acabando com a ociosidade produtiva no
período de entre safra. Nesse processo surgiu a Refinadora Catarinense que
abandonou o mercado regional e por intermédio do IAA, seu único cliente, passou
a exportar todo o açúcar produzido (CORRÊA, 1996).
O
desenvolvimento da agroindústria açucareira, bem como das olarias, que passaram
por um processo de crescimento e modernização, aliado a outras indústrias
(doces, pescados, madeira) aceleraram o processo de urbanização do município e
expansão do setor terciário, além de aumentar a demanda por moradia, provocando
o crescimento urbano do município.
O PROCESSO
DE MODERNIZAÇÃO
Segundo o
Dicionário de Sociologia (1987) a delimitação do conceito de modernização
variou muito no decorrer no tempo, mas basicamente referiam-se aos processos de
mudanças sociais com a passagem de uma sociedade rural para uma sociedade
urbano-industrial, num processo de trânsito da tradição para a modernidade,
acompanhando um processo de desenvolvimento econômico com conseqüências da
emergência da urbanização e da industrialização.
O Novíssimo Dicionário de Economia
(1999, p. 403-404) nos traz que a modernização é o “processo de mudança econômica, social e política
pelo qual determinada sociedade supera estruturas tradicionais (de base rural),
criando novas formas de produção, mecanismos racionais de dominação e novos
padrões de comportamento”. São fenômenos característicos do processo de modernização
econômica e social a urbanização e a industrialização, fatores estes que
definem se um município, estado ou país estão se modernizando.
Na perspectiva geográfica temos os
estudos de Santos (1994) que tratam sobre modernização e período técnico - cientifico
- informacional. Segundo ele a
humanidade passou por períodos até chegar ao denominado período técnico –
científico - informacional onde o espaço rural e urbano são marcados na sua
transformação pelo uso sistemático das contribuições da ciência e da técnica e
por decisões que definem os usos em que cada fração do território vai ser
destinada.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial com
as atividades humanas dependendo da técnica e da ciência surgiu um novo período
assim denominado de período técnico – cientifico. A partir dos anos 60, sobretudo
a partir da década de 70, marcam uma nova fase, com a interdependência da ciência
e técnica em todos os aspectos da vida social e que estabeleceram o processo de
modernização pelo qual passou o país onde o Golpe de Estado de 1964 aparece
como um marco, pois o regime criou as condições para integração do país e a sua
internacionalização (SANTOS, 1994).
Modernização
no Brasil e em Santa
Catarina
A modernização
brasileira aprofunda-se em meados da década de 50 com a industrialização pesada,
a criação de vários centros de pesquisas básicas, a implantação de complexos petroquímicos
ligados a Petrobrás e a consolidação de uma política nacional de crédito rural com
a forte atuação do Estado. Nesta época o país já vivenciava uma tendência a
urbanização e as bases da industrialização já eram alicerçadas com políticas voltadas
ao seu desenvolvimento (GOULARTI FILHO, 2002).
Em 1955, com
a posse de Juscelino Kubitschek, é dado início ao Plano Nacional de
Desenvolvimento, conhecido como Plano de Metas, privilegiando os setores de
energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação. O capital
estrangeiro é atraído pela ampliação dos serviços de infra-estrutura, como
transporte e fornecimento de energia elétrica e instituições internacionais passam
a financiar e promover treinamentos e assistência na área de planejamento
econômico o que ensejará na modernização do país.
O
nacional-desenvolvimentismo sob a influência da “era JK” chegará em Santa Catarina na
década de 60, quando ocorre o primeiro passo para o desenvolvimento onde o
governo foi desafiado a se modernizar para atender as exigências do modo de
produção capitalista em que o capital industrial passou a ser o móvel da
acumulação capitalista com a modernização da agricultura e com a mudança do
complexo agrocomercial para o complexo agroindustrial (GOULARTI FILHO, 2002).
O processo de
modernização do campo no Brasil e em Santa Catarina, com a chamada Revolução Verde, promove
a substituição da agricultura tradicional por uma agricultura modernizada. Ainda
na década de 60, as olarias produtoras de telhas e tijolos também modernizaram
suas atividades produtivas com o uso de equipamentos e maquinários modernos, possibilitado
pelo crédito devido ao processo de urbanização no pelo qual passava o Estado de
Santa Catarina.
Modernização
no município de Tijucas - Constituição do CAI açucareiro, instalação da
Cerâmica Portobello e expansão urbana no município de Tijucas
No município de Tijucas é possível
perceber a partir de 1965 o aumento na utilização de fertilizantes químicos e o
uso cada vez maior de tratores no campo[8]
que desencadearam um processo de modernização. Em 1960 havia 15 tratores no município de Tijucas e apenas 1,38% dos
estabelecimentos usavam trator. Já em 1970 haviam 61 tratores e em 1980 (270),
sendo que o emprego de trator nos estabelecimentos ampliou de 4,90% para
30,28%, respectivamente. Já o uso de fertilizantes químicos passou de 2,98% dos
estabelecimentos em 1960 para 66,95% em 1985 e o uso de fertilizantes orgânicos
passou de 5,13% para 71,37% no mesmo período. Já o uso de corretivos (calcário)
e defensivos (animal) passaram a ser usados a partir de 1980 (CORRÊA, 1996).
Em meados da década de 70 com o processo
de modernização da agricultura, com as condições materiais favoráveis será
constituído o CAI açucareiro provocando a reorganização do espaço no município
de Tijucas, com mudanças na base tecnológica, na estrutura fundiária, no uso da
terra e nas relações de trabalho, com o avanço do capitalismo no campo, o uso
intensivo da técnica e da ciência e o apoio do Estado, a atividade canavieira
passa a ser desenvolvida em bases capitalistas modernas alcançando notável
produtividade a partir de 1975 em função da utilização de insumos, maquinários
modernos, diversificação de mudas e emprego de técnicas, além do grupo ter intensificado o serviço de
assistência visando reter o fornecedor (CORRÊA, 1996).
Os canaviais expandiram-se por áreas
novas como terras improdutivas, áreas antes exclusivas ao cultivo alimentares,
avançando ainda por áreas de vegetação natural. A atividade canavieira em bases
capitalistas provocou a desagregação familiar e a proletarização do trabalhador
rural. A medida que foi adquirindo novas terras foram organizadas novas unidades produtivas sob a forma de
monocultura de cana em bases modernas, genericamente chamadas de fazendas, onde
o emprego de mão-de-obra assalariada marcou em definitivo a expansão do capitalismo
da atividade canavieira (CORRÊA, 1996).
No final da década de 70 o IAA passa a
reduzir os investimentos para o setor canavieiro, sendo que desde o início da
década as políticas governamentais também voltam-se para a produção industrial,
onde o setor de revestimentos cerâmicos que já vinha sendo privilegiados pela
política de financiamentos desde a década de sessenta tendo em vista a
urbanização acelerada e a demanda crescente por produtos da construção civil,
principalmente de revestimentos cerâmicos para atender a população de maior
poder aquisitivo.
O grupo USATI-PORTOBELLO vislumbra neste
contexto a oportunidade de instalar uma cerâmica de revestimentos no município,
numa política de diversificação das atividades da holding. Em 1977 o Grupo
USATI-PORTOBELLO, com o capital acumulado com a produção de açúcar e o
crescimento acelerado da urbanização e, por conseguinte da construção civil no
estado com o crescimento de cidades como Joinville, Blumenau e Florianópolis,
bem como em todo o país com o aumento da demanda por revestimentos
cerâmicos devido o processo de urbanização acelerado e também para ficar menos dependente da atividade
canavieira que apresentava sinais de enfraquecimento, inicia a construção de
uma indústria de revestimentos cerâmicos[9],
a Cerâmica Portobello.
A indústria de transformação de minerais
não-metálicos e a extração mineral, já desenvolvidas na região desde o início
do século XX conferiu ao grupo USATI-PORTOBELLO um conhecimento do lugar que
também deve ter influenciado o grupo para atuar no ramo cerâmico, pois embora o
processo produtivo para a produção de revestimentos cerâmicos seja distinto do
processo produtivo da cerâmica vermelha, o ramo de atuação é o mesmo, ou seja, indústria
de transformação de minerais não-metálicos, além do que na década de 50 o grupo
já havia implantando uma olaria e algumas cerâmicas da região já produziam
lajotas para pisos utilizando argila selecionada e fornos-túnel.
As
atividades de produção iniciaram em junho de 1979, quando entrou em operação o
primeiro forno com capacidade de 65.000 m2 por mês. A
Cerâmica Portobello caracterizou-se desde o início pela alta concentração
tecnológica para produção da linha cerâmica nobre, distinguindo-se das olarias
existentes na região, que trabalham com a produção da linha de cerâmica
vermelha, representando uma mudança técnica das atividades cerâmicas
desenvolvidas no município até então assentadas na cerâmica vermelha (PORTOBELLO, 2009).
A produção de revestimentos cerâmicos
constituiu um ramo de atuação totalmente novo para o Grupo USATI-PORTOBELLO. A
partir de então o município passa a ter duas vias de desenvolvimento, seja com
a atividade canavieira que era processada na Usina localizada em São João Batista
e com a produção de revestimentos cerâmicos. O Grupo
USATI-PORTOBELLO passa então a dominar o meio rural com o CAI açucareiro e o meio
urbano com a Cerâmica Portobello, sendo duas atividades totalmente distintas
que irão delinear a organização do município e o desenvolvimento das atividades
econômicas.
A Cerâmica Portobello teve papel
importante no crescimento urbano e populacional, bem como no dinamismo econômico
do município. A medida que a Cerâmica Portobello foi expandindo seu parque
fabril houve a necessidade de contratar cada vez mais mão-de-obra o que
influenciava diretamente no crescimento urbano do município com a intensificação
do processo migratório de pessoas de outras partes do estado e do país em busca
de trabalho e melhores condições de vida.
No final da década de 80 a crise alcançou a
atividade canavieira e o CAI foi
desativado em 1989, abalado pela crise econômica brasileira que havia alcançado
o setor açucareiro, aliado a extinção do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool)
no ano anterior, onde o Grupo USATI-PORTOBELLO avaliou a situação de suas
unidades, concluindo que possuíam poucas áreas de terra e que a produtividade[10]
era menor se comparadas a do Estado de São Paulo, chegando a conclusão que a
produção de cana para fins industriais era antieconômica no território
catarinense (CORRÊA,
1996).
Com
a desativação do CAI o município perde uma das vias de desenvolvimento, porém a
segunda via representada pela Cerâmica Portobello foi consolidada com a modernização
e expansão da atividade cerâmica, sendo que no decorrer dos anos a ampliação da
produção e do número de trabalhadores, bem como a diversificação dos produtos
foi uma constante.
CONSEQUÊNCIAS
SÓCIO-ESPACIAIS DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS
Em decorrência das mudanças estruturais pelo qual
passou o município, com o processo de modernização das atividades econômicas,
tanto no campo como na cidade, serão analisadas adiante quais foram as
conseqüências em relação às mudanças sócio-espaciais no meio rural, no crescimento
populacional e urbano, bem como as mudanças no perfil socioeconômico,
procurando, assim, reconhecer e dimensionar,
qualitativa e quantitativamente, os vetores da modernização com incidência no
município.
Transformações
sócio-espaciais no meio rural[11]
Com a modernização da atividade canavieira e a
constituição do Complexo Agroindustrial açucareiro grande parte dos produtores
rurais foram expropriados devido ao avanço capitalista do Grupo USATI-PORTOBELLO
no processo de aquisição de terras
provocando a reorganização espacial com o processo de concentração fundiária
onde o grupo pretendia produzir a própria cana eliminando desta forma o produtor
independente. Os ex-fornecedores de cana que resistiram à expropriação
tiveram que encontrar no meio rural outras formas de sobrevivência (CORRÊA, 1996).
Com relação a concentração fundiária é possível
constatar que os estabelecimentos situados nos estratos com menos de 5 a 50 ha reduziram
significativamente a área no intervalo de 1960 (63,02%) para 1980 (42,79%). Em
contrapartida os estabelecimentos com mais de 200 há tiveram um incremento na
área de 13,11% para 35,30% respectivamente, o que demonstra a mudança na
estrutura fundiária devido ao avanço capitalista no campo, onde o Grupo USATI-PORTOBELLO,
representado pela Usina de Açúcar Tijucas S/A, instalada em São João Batista,
foi a principal responsável pela concentração de terras nos estratos superiores
(CORRÊA, 1996).
No
que se refere ao uso da terra a área
utilizada para o cultivo da cana-de-açúcar aumentou de 1.428 ha em 1960 para 2.747 ha em 1970 diminuindo
para 2015 ha
em 1980. Já o fumo ocupou uma área plantada de 825 ha em 1960, permanecendo
825 ha em
1970 e subindo para 1.025
ha em 1980. Este aumento na área destinada ao cultivo do
fumo foi devido ao processo de eliminação dos fornecedores de cana que passaram
a plantar fumo como alternativa para permanecerem vivendo no campo, além de outros
que optaram pelo cultivo de arroz e criação de gado. Já os cultivos alimentares
apresentaram variações irregulares no período (CORRÊA, 1996).
O avanço capitalista do Grupo USATI-PORTOBELLO no
campo também provocou a alteração nas relações de trabalho aparecendo a figura
do “bóia-fria” como são chamados os assalariados do campo. No que se refere às
relações de trabalho houve uma diminuição do trabalho familiar no intervalo de
1960 (92,68%) para 1970 (79,03%) e 1980 (77,48%) o qual deve ser atribuída ao avanço
capitalista e a modernização tecnológica da agricultura, seja na atividade
canavieira ou fumageira. Em contrapartida o número de empregados temporários
passou de 4,44% (1960) para 15,54% (1970) diminuindo para 12,02% em (1980) e o
número de empregados permanentes passou de 2,51% (1960) para 4% (1970) e 9,32%
em 1980 (CORRÊA, 1996).
Transformações
sócio-espaciais no meio urbano
Com
o avanço capitalista e os lucros auferidos com a atividade canavieira o Grupo
USATI-PORTOBELLO veio a diversificar suas atividades com a instalação da
Cerâmica Portobello no final da década de 70, onde a economia tijuquense, que
se encontrava baseada basicamente na atividade canavieira, muito embora tivesse
uma variedade de pequenos e médios estabelecimentos industriais foi dinamizada
vindo a gerar muitos empregos tantos diretos como indiretos, atraindo grande
número de trabalhadores provocando desta forma o crescimento populacional,
sobretudo da população urbana, intensificando o processo de urbanização.
A
população urbana cresceu tanto em termos absolutos passando de 6.476 em 1970
para 26.002 em 2010, significando um aumento de quatro vezes, quanto em termos
percentuais passando de 50,7% em 1970 para 84% em 2010. Já a população rural
diminui em números absolutos passando nesse mesmo período de 6.298 para 4.958,
e em termos percentuais passando de 49,3% em 1970 para 16% em 2010. Tal situação evidencia a participação cada vez
maior da população urbana e do desenvolvimento das atividades ligadas ao setor
secundário e terciário a partir da década de 70 quando ocorre a modernização da
atividade canavieira e a instalação da Cerâmica Portobello.
Quadro 01: Crescimento populacional e participação
da população urbana em Tijucas
Ano
|
População Total
|
Pop. Rural
|
Pop. Urbana
|
% Pop. urbana
|
1970
|
12.774
|
6.298
|
6.476
|
50,7%
|
1980
|
14.608
|
5.641
|
8.967
|
61,4%
|
1991
|
19.650
|
5.316
|
14.334
|
72,9%
|
2000
|
23.499
|
4.788
|
18.711
|
79,6%
|
2010
|
30.960
|
4.958
|
26.002
|
84%
|
Fonte:
IPEA Regional: Tema População e IBGE Censo Populacional de 2010
No meio
urbano, com
a instalação da Cerâmica Portobello no final da década de 70, o processo de urbanização
se intensificou. A expansão urbana
do município, acelerada a partir da década de 80, promoveu a abertura de vários
loteamentos empreendidos tanto pela Cerâmica Portobello para atender as
necessidades de seus funcionários por moradia além de iniciativas de
proprietários de grandes glebas de terras no centro da cidade que passaram a
vislumbrar uma boa forma de ganhar dinheiro loteando suas terras devido a
grande demanda existente.
O Estado, por intermédio da Prefeitura
Municipal, do Governo Estadual e do Governo Federal, os grupos sociais
excluídos e por fim os agentes imobiliários também agiram na produção do espaço
com a abertura de vários loteamentos.
A expansão urbana se deu na direção norte, para as terras mais altas e
favoráveis a habitação, já que em direção ao sul o rio funciona como barreira
natural, além do que as terras alagáveis situadas no sul do rio não são propícias
a habitação.
Mudanças
no perfil sócio-econômico
Com
o processo de modernização ocorreu uma expansão/retração dos setores produtivos
onde a agricultura regride aceleradamente no período de 1970 a 1996 passando de
25,58% para 1,46%, subindo para 3,97% em 2008. Já a participação da indústria
aumenta aceleradamente no mesmo período passando de 33,98% em 1970 para 68,30%
em 1996, vindo a regredir para 37,65% em 2008, onde então o setor terciário
passa a assumir a ponta como setor mais importante passando a responder por 56,47%
do PIB.
Quadro
02: Tijucas – PIB (Participação por setor)
1970
|
1975
|
1980
|
1985
|
1 996
|
2000
|
2008
|
|
Agricultura
|
25,58
|
22,65
|
12,64
|
11,11
|
1,46
|
2,02
|
3,97
|
Indústria
|
33,98
|
41,19
|
61,51
|
59,11
|
68,30
|
41,51
|
37,65
|
Com/Serv.
|
40,44
|
36,16
|
25,85
|
29,78
|
30,24
|
56,47
|
58,38
|
Total
|
100,00
|
100,00
|
100,00
|
100,00
|
100,00
|
100,00
|
100,00
|
Fonte:
IPEA Regional - Tema Contas Nacionais
Já quanto ao pessoal ocupado, verifica-se que em
1970, 78,66% da população ocupavam-se no setor primário, 12,11% no secundário e
9,21% no terciário. Em 1975 a
maior parte da população ainda continuava ocupada no setor primário (71,31%) embora
a participação tenha diminuído com a redução do pessoal ocupado na agricultura. A
redução do pessoal ocupado na agropecuária no período de 1970 para 1975,
passando de 2.655 para 1.785, é devido ao avanço capitalista do Grupo USATI-PORTOBELLO
no campo que aumentou a área destinada ao plantio de cana-de-açúcar e reduzindo
as áreas destinadas aos cultivos alimentares, forte empregadora de mão-de-obra.
O número
de trabalhadores no setor secundário passa de 423 em 1975 para 1.039 em 1980,
representando 30,88% do pessoal ocupado
devido a entrada em funcionamento da Cerâmica Portobello em 1979. De 1985 para 1995 o número de pessoal ocupado
na indústria continua crescendo passando de 1.161 para 1.801 em virtude da
expansão do parque fabril da Cerâmica Portobello. Em relação ao pessoal ocupado no setor agropecuário
este regrediu de 1.974 para 481 trabalhadores, no mesmo período, devido à
dissolução do CAI açucareiro em 1989.
O
pessoal ocupado no setor terciário tem um aumento significativo no período de
1985 para 1995, passando de 404 para 1.200 trabalhadores, o que representa o
dinamismo das atividades urbanas relacionadas a cadeia produtiva formada pela
Cerâmica Portobello, assim como o aumento na demanda de bens e serviços pela
população urbana. Em 2010 o secundário
passa a representar 51,39% do pessoal ocupado, o terciário 48,14% e o primário
apenas 0,47%. A participação do pessoal ocupado no setor agropecuário deve ser
maior, porém por não ser formalizado não aparece nos dados oficiais.
Quadro
03: Tijucas - Pessoal Ocupado por Setor
Ano
|
Agropecuária
|
Indústria
|
Comércio e Serviços
|
Total
|
1970
|
2.655
|
409
|
311
|
3.375
|
1975
|
1.785
|
423
|
295
|
2.503
|
1980
|
2.074
|
1.039
|
251
|
3.364
|
1985
|
1.974
|
1.161
|
404
|
3.539
|
1995
|
481
|
1.801
|
1.200
|
3.482
|
2010
|
41
|
4.505
|
4.220
|
8.766
|
Fonte: IPEA: Regional
- Tema Empregos. Os dados de 2010 foram obtidos junto a RAIS/MTE
O
processo de modernização ocorrido no município com o aumento da população
urbana e a participação cada vez maior do setor secundário e do setor terciário
provocou mudanças no perfil socioeconômico com a melhora no IDH[12]
no período de 1970 a
2000. Em 1970 o IDH municipal era de 0,389, abaixo do IDH estadual que era de
0,477 vindo a superá-lo no ano 2000 onde o IDH municipal fica em 0,835 e o IDH
estadual ficou em 0,822 o que significa que no período analisado o IDH
municipal apresentou um desempenho melhor que o estadual, devido sobretudo a
instalação da Cerâmica Portobello.
O
IDH Renda foi o que teve o melhor desempenho passando de 0,248 em 1970 para
0,868 em 1980, o que representou um crescimento substancial relacionado a
entrada em funcionamento da Cerâmica Portobello no ano de 1979, sendo o
indicador que mais contribuiu para elevar o IDH-M, muito embora o IDH Educação
e o IDH Longevidade também tenham apresentado um bom desempenho no período. Em
1991 houve uma queda no IDH Renda devido à dissolução do CAI açucareiro em 1989.
Quadro 04: IDH – M - Índice de
Desenvolvimento Humano
Ano
|
Educação
|
Longevidade
|
Renda
|
IDH Municipal
|
IDH Estadual
|
1970
|
0,531
|
0,386
|
0,248
|
0,389
|
0,477
|
1980
|
0,608
|
0,567
|
0,868
|
0,681
|
0,734
|
1991
|
0,770
|
0,770
|
0,700
|
0,747
|
0,748
|
2000
|
0,892
|
0,845
|
0,769
|
0,835
|
0,822
|
2010
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Fonte:
IPEA - Social - Tema Desenvolvimento Humano
(-)
Dados não disponíveis
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A proposta de analisar o processo de
modernização econômica ocorrido no município de Tijucas a partir da década de
70 e as transformações sócio-espaciais decorrentes tornou evidente o papel
determinante do Grupo USATI-PORTOBELLO como principal agente modernizador, com
as mudanças estruturais provocadas pela constituição do Complexo Agroindustrial
açucareiro e pela instalação da Cerâmica Portobello.
A constituição do Complexo
Agroindustrial açucareiro na década de 70 provocou a reorganização no espaço
agrário do município. O capital acumulado com a atividade canavieira foi que permitiu
ao Grupo USATI-PORTOBELLO diversificar suas atividades com a instalação da
Cerâmica Portobello em 1977 que veio a representar uma modernização das
técnicas desenvolvidas no território até então assentadas na indústria da
cerâmica vermelha. A partir desse momento passam a existir no município duas
vias de desenvolvimento com o Complexo Agroindustrial açucareiro e com a
Cerâmica Portobello.
A
desativação da Usina de Açúcar Tijucas S/A e da refinaria em 1989, ambas
localizadas no município de São João Batista, provocou a dissolução do CAI
açucareiro na sua área de influência. O município perde uma das vias de
desenvolvimento baseada na atividade canavieira, contudo a segunda via de
desenvolvimento representada pela Cerâmica Portobello foi consolidada com a
modernização e expansão da atividade cerâmica.
Neste momento retomaremos as indagações
iniciais para algumas considerações. Que lugar coube à formação sócio-espacial no
processo de modernização? A formação sócio-espacial do litoral catarinense foi
fundamental para o estabelecimento de uma economia agrária, a introdução da
lavoura canavieira e o posterior desenvolvimento do Complexo Agroindustrial
açucareiro, já que a cana-de-açúcar era cultivada no Vale do Rio Tijucas desde
o início do povoamento. Soma-se a esse processo, a introdução da produção de
cerâmica vermelha que foi introduzida no Estado de Santa Catarina inicialmente
pelos açorianos que chegaram à região litorânea e mais tarde pelos alemães e
principalmente italianos que, com seus conhecimentos técnicos acerca da
produção cerâmica constituíram a base social para o surgimento da indústria de
transformação de minerais não-metálicos no início do século XX, quando foram
instaladas as primeiras olarias no município.
Quais foram os principais agentes
envolvidos? Após a realização da pesquisa ficou evidente que o principal agente
envolvido na modernização econômica do município foi o Grupo USATI-PORTOBELLO,
com a constituição do Complexo Agroindustrial açucareiro e a implantação da
Cerâmica Portobello, onde ambas representaram uma modernização das técnicas
desenvolvidas no município, mas também teve contribuição a indústria fumageira,
além do próprio Estado ao abrir linhas de crédito para financiar a
agroindústria açucareira e a indústria de minerais não-metálicos, bem como implantar
a infra-estrutura necessária com a pavimentação da Rodovia BR 101 inaugurada em
1971 e da Rodovia SC 411, inaugurada em 1975.
Quais foram os efeitos da modernização
na reorganização sócio-espacial do município? Os principais efeitos foram o
crescimento populacional e o aumento da urbanização onde a população urbana
passou de 50,7% em 1970 para 84% em 2010 com a preponderância do setor secundário
e terciário atingindo 96,03% do PIB em 2008 provocando desta forma mudanças no
perfil sócio-econômico com uma melhoria substancial nas condições de vida da
população tijuquense resultado da mudança de uma sociedade tradicional baseada
na agricultura para uma sociedade moderna baseada nas atividades
urbano-industriais.
REFERÊNCIAS
CAMPOS,
Nazareno José. Terras comunais na Ilha
de Santa Catarina. Florianópolis, Editora da UFSC, 1991.
CORRÊA,
Walquíria Kruger. Transformações
sócio-espaciais no município de Tijucas (SC): o papel do grupo USATI-PORTOBELLO.
Rio Claro, 1996, 213 f.
Tese (Doutorado em Geografia), UNESP.
FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS. Dicionário de ciências sociais.
(2a ed.), Rio de Janeiro, Ed. da FGV, 1987, p. 773-775.
GOMES,
Luiz; BAYER, Marcos. Muitas histórias de
Tijucas. Florianópolis: Editora Insular, 2000. 248 p.
GOULARTI
FILHO, Alcides. A formação econômica de Santa Catarina. Ensaios FEE, Porto Alegre, v 23, n 2, p 977-1007, 2002.
IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Estatística: população e economia. Disponível em www.ibge.gov.br.
Acesso em 04/06/2011.
IPEA
(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). IPEADATA: macroeconômico, Regional, Social. Disponível em www.ipeadata.gov.br.
Acesso em 04/06/2011.
MTE
(Ministério do Trabalho e Emprego). PDTE:
Estatísticas da RAIS e do CAGED. Disponível em www.mte.gov.br. Acesso em
08/10/2011.
NOVÍSSIMO
DICIONÁRIO DE ECONOMIA. Modernização econômica.
(Org. Paulo Sandroni), São Paulo: Best Seller, 1999.
PNUD
(Programa das Nações Unidas). Desenvolvimento
humano e IDH. Disponível em www.pnud.org.br. Acessado em 31/08/2011.
PORTOBELLO.
IAN: Informações anuais 2007.
Disponível em www.portobello.com.br.
Acesso em 23/07/2011.
PREFEITURA
MUNICIPAL DE TIJUCAS. Fatos históricos. Disponível
em www.tijucas.sc.gov.br. Acesso em 30/07/2011.
ROUVER,
Vanderlei. Canelinha do Tijucas Grande.
Canelinha/SC: Ed. da Prefeitura Municipal de Canelinha, 1988.
SANTA
CATARINA (Estado). Atlas escolar de
Santa Catarina. Florianópolis: IOESC, 1991.
SANTOS,
Milton. Técnica, espaço e tempo: globalização
e meio técnico-científico-informacional. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994.
_________________________________________________________________________________
[1] O presente artigo foi elaborado a partir da monografia com o mesmo
título deste artigo e que foi apresentada em dezembro de 2011 para obtenção do
titulo de bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina.
[2] Área
definida pelo IBGE, Resolução nº 05 de 10 de outubro de 2002.
[3] A baía de Tijucas não dispõe de praias turísticas em função das
condições geomorfológicas da planície costeira e pela imensa quantidade de
sedimentos trazidos pelo Rio Tijucas
[4] Em 1933
o governo passa a intervir na economia com a criação do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), Decreto nº 22.789 de
01/06/1933, que passa a regulamentar a produção açucareira no país.
[5] A opção por Florianópolis justifica-se por ser a capital do estado,
além de sediar a Universidade Federal de Santa Catarina e os institutos de
pesquisas agropecuárias.
[6] As
agroindústrias fumageiras com sede em Brusque e Blumenau já atuavam em Tijucas
desde a década de 50.
[7] Açúcar em estágio intermediário de beneficiamento e que ainda não foi
submetido ao processo de clareamento.
[8] Os dados sobre uso de fertilizantes e tratores no município de Tijucas
extraídos da Tese de Doutorado da Prof. Walquíria Kruger Corrêa refere-se à
malha de 1950 onde naquela década faziam parte de Tijucas (Sede) os distritos
de São João Batista (desmembrado em 1958) e Canelinha (desmembrado em 1962).
[9] A cerâmica de revestimento constitui-se um
segmento da indústria de transformação, inserida no ramo de minerais
não-metálicos, tendo como atividade a produção de uma variedade
de produtos destinados ao revestimento de pisos e paredes. Representa, ao lado
da cerâmica vermelha, louças, cal e vidro, uma cadeia produtiva que compõe o
complexo industrial de materiais de construção.
[10] Nas
unidades industriais da Usina de Açúcar Tijucas S/A, uma tonelada de cana
rendia em média 86 kg de açúcar. No Estado de São Paulo a produção industrial
alcançava em média 130 kg por tonelada de cana. (CORRÊA, 1996, p. 189).
[11] Os dados sobre o espaço agrário do município de
Tijucas foram extraídos da Tese de Doutorado da Prof. Walquíria Kruger Corrêa
que optou por manter a malha de 1950 para composição das tabelas devido ao fato
de que naquela década faziam parte de Tijucas (Sede) os distritos de São João
Batista (desmembrado em 1958) e Canelinha (desmembrado em 1962) para evitar
desta forma distorções. Os dados foram obtidos do IBGE – Censos Agrícolas
(SC) de 1950, 1960 e Censos Agropecuários (SC) de 1970, 1980, 1985.
[12] O
objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano foi
oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno
Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do
desenvolvimento. Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo
poder de compra da moeda de cada país, o IDH também leva em conta dois outros
componentes: a longevidade e a educação. Essas três dimensões têm a mesma
importância no índice, que varia de zero a um.
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