Dentre os conceitos da Geografia, o espaço geográfico é o mais abrangente, apresentando-se como “um todo” do qual derivam os demais conceitos e com o qual eles se relacionam. Correa [1] lembra que o termo espaço é de uso corrente, utilizado no dia a dia e em diversas ciências. Nos dicionários o verbete espaço apresenta numerosos qualificativos, além de ser descrito segundo várias acepções diferentes. “Entre os astrônomos, matemáticos, economistas e psicólogos, entre outros, utiliza-se, respectivamente, as expressões espaço sideral, espaço topológico, espaço econômico e espaço pessoal” [1]. O homem é o agente por excelência do espaço geográfico. O espaço somente passa a existir quando se verifica interação entre o homem e o meio em que vive, do qual retira o que lhe é necessário para a sobrevivência, promovendo alterações de suas características originais. A forma como as sociedades se relacionam com o espaço vai se modificando, enquanto sua capacidade de intervenção se acentua e o espaço geográfico torna-se cada vez mais abrangente, chegando atualmente, a quase se sobrepor a todo o globo. Além disso, a presença humana efetiva não é imprescindível para que uma área seja definida como espaço geográfico, basta que a área esteja inserida nos projetos humanos ou que se verifique intervenção indireta, como por exemplo, através de zoneamentos e delimitação de áreas de preservação. A expressão espaço geográfico ou simplesmente espaço, aparece como vaga, estando associada a uma porção específica da superfície da terra identificada, seja pela natureza, como destaca Correa [1], seja por um modo particular como o homem imprimiu as suas marcas, seja com referência a simples localização. O autor acrescenta que “a palavra espaço tem o seu uso associado indiscriminadamente a diferentes escalas, global, continental, regional, da cidade, do bairro, da rua, da casa e de um cômodo no seu interior.” [1]. O conceito de paisagem está relacionado a tudo que os sentidos humanos podem perceber e apreender da realidade de determinado espaço geográfico ou parte dele, está diretamente relacionado à sensibilidade humana. Há quem entenda a paisagem como uma realidade que pode ser representada visualmente em uma fotografia ou pintura. Embora a visão seja o principal sentido com o qual se observa a realidade, outros sentidos também podem participar da identificação da paisagem, introduzindo-se informações como sons e odores na descrição da paisagem, método através da qual ela pode ser bem explorada. A paisagem também se constitui como uma realidade atual construída através do acúmulo de acontecimentos ou eventos passados, uma vez que o que é observado em uma paisagem da atualidade passou por um processo de constantes mudanças. Esse aspecto pode ser percebido através da observação de fotografias de uma mesma paisagem referentes a períodos diferentes, na qual se pode perceber o que permanece e o que foi sendo alterado, para formar a paisagem atual. De modo geral, as mudanças causadas pela natureza (como, por exemplo, a erosão) são percebidas apenas lentamente, enquanto que as alterações humanas são mais rápidas (como por exemplo, a construção de uma cidade), embora um evento natural como terremotos e furacões também possa promover grandes alterações. A paisagem pretérita apresentava um conjunto de muitos elementos naturais, no entanto, a paisagem humanizada tem se expandido, à medida que o homem altera a natureza, mesmo quando modela uma nova paisagem aparentemente natural, como ocorrem com os jardins. As paisagens humanizadas ou artificiais de maior visibilidade são as áreas urbanas construídas pela ação humana. Ao fazer referência à distinção entre paisagens naturais e humanizadas, Santos [2] assim se manifesta: A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem. Se no passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente não existe mais [...]. Quanto mais complexa for a vida social, tanto mais nos afastamos de um mundo natural e nos endereçamos a um mundo artificial [...], este parece ser o caminho da evolução [2].
A compreensão do termo território não se restringe a sua situação de conceito geográfico, mas também faz parte do uso corrente de outras ciências, em que é adotado com significados diferentes. Alguns termos têm importantes associações com o conceito de território. O mais importante deles é o poder, já que os territórios são formados fundamentalmente a partir de relações de poder de determinado agente. As fronteiras territoriais também são essenciais, uma vez que delimitam a área alcançada por essas relações de poder, sendo as mais conhecidas, as fronteiras nacionais e outras delimitações políticas como, por exemplo, subdivisões estaduais internas. Da mesma forma que ocorre com vários dos demais conceitos, podemos identificar territórios em níveis escalares diferentes como, por exemplo, em escala mundial, nacional, regional, local. As discussões a respeito da territorialidade destacam a possibilidade de que as relações de poder não necessariamente efetivem áreas de ocupação e controle de determinados agentes, em que as fronteiras podem se manifestar instáveis. A territorialidade se mantém associada às relações de poder e se apresenta como a tentativa de constituir um território, nem sempre materializável, através de fronteiras bem delimitadas. As disputas de grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas nas favelas, as áreas de prostituição nas regiões centrais das cidades e as ocupações dos movimentos de trabalhadores sem terra são alguns exemplos de como a territorialidade pode se constituir. O conceito de região geográfica passou por vários momentos de discussão no interior da Geografia desde sua gênese, em que seu significado foi sendo alterado de acordo com o direcionamento científico [3]. As alterações referentes ao conceito de região se verificam devido a mudanças dentro da própria Geografia, tendo passado pelo uso das seguintes classificações: região natural (surge a partir da inspiração da geologia e entende-se que o ambiente tem certo domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade, configurando o determinismo geográfico); região geográfica ou região-paisagem (em que admite-se que a sociedade não é determinada pelo meio em que vive, mas dele dispõe como deseja, tansformando-o segundo suas possibilidades); a região homogênea e a região funcional (tendo como pressupostos análises de âmbito econômico) e o conceito de região associado ao sentimento de pertencimento da população a uma parte do espaço [3]. O desenvolvimento e aceleração do processo de globalização dão a impressão de que o mundo caminha cada vez mais para uma economia unificada, uma dinâmica cultural hegemônica, uma sociedade que só poderá ser compreendida como um processo de reprodução social global. Gomes [3] recorda que alguns autores chegam a enunciar o fim das regiões devido à homogeneização dos espaços e à uniformização dos processos sociais. No entanto, o geógrafo Milton Santos [4] destaca a universalidade do fenômeno da região afirmando que “nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, individualização e regionalização”. As regiões são entendidas como o suporte e a condição das relações globais, sem o qual estas não se realizam. O processo de regionalização é o que dá origem às regiões. Dessa forma, secciona-se o espaço geográfico em partes que apresentam internamente características semelhantes. Os elementos internos de uma região não são idênticos, mas quando comparados aos elementos de outra região se percebe certa homogeneidade interna. Para se empreender um processo de regionalização é preciso estabelecer um conjunto de objetivos e de critérios segundo os quais o espaço será dividido, podendo estes critérios ser de ordem natural, política, econômica, social, etc. Vários tipos de regionalizações para o mesmo espaço podem ser propostos, seguindo objetivos e critérios específicos e promovendo uma sobreposição de regiões. Cada regionalização pode ou não considerar os limites administrativos previamente definidos. O conceito de lugar faz referência a uma realidade de escala local ou regional e pode estar associado a cada indivíduo ou grupo. O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriada para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens. Para compreensão deste conceito evoca-se a “valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente” [5]. O lugar significa muito mais do que simplesmente uma localização geográfica, ele está relacionado aos diversos tipos de experiência e envolvimento com o mundo. Além disso, o lugar também se associa ao sentimento de pertencer a determinado espaço, de identificação pessoal com uma dada área. Cada localidade possui características próprias que, em conjunto, conferem ao lugar uma identidade própria e cada indivíduo que convive com o lugar, com ele se identifica. Dessa forma, o lugar garante a manutenção interna da situação de singularidade. As parcelas do espaço geográfico com a qual cada indivíduo se relaciona e interage compõe o seu lugar. Cada pessoa terá um lugar diferente da outra, na medida em que ambas possuem vida e cotidiano diferentes. O lugar possui também íntima relação com os aspectos culturais que marcam cada sociedade. As redes geográficas adquirem importância cada vez maior no contexto atual. Castells [6] define a rede como “um conjunto de nós interconectados e nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta” [6]. Os nós das redes podem ser representados por vários elementos do espaço como, por exemplo, centros urbanos, bolsas de valores, sistemas de televisão, etc. As redes são o meio através do qual se desenvolvem e se manifestam os diferentes tipos de fluxos, conforme o tipo de rede e de seus nós. A rede urbana é uma forma simples de compreender a organização em redes. Neste caso, identifica-se uma hierarquia de cidades conforme seu porte e sua importância econômica, sendo seus nós compostos por: cidades globais, metrópoles nacionais, metrópoles regionais, centros regionais, subcentros regionais e cidades locais. Há uma interligação entre esses nós da rede urbana, entre os quais se estabelecem fluxos de mercadorias, pessoas, serviços, etc. A nova economia mundial está cada vez mais se organizando em torno das redes globais de mercadorias e de capital. A sociedade em redes em suas várias expressões é uma sociedade capitalista em que este modo de produção dá forma às relações sociais em todo o planeta. O desenvolvimento da tecnologia da informação favorece a base material para a expansão das redes em toda a estrutura social a ponto de que a tendência seja de que cada vez mais a sociedade se organize em forma de redes geográficas materiais e não-materiais. As escalas geográficas são compreendidas como níveis em que o espaço é “subdividido” para melhor ser compreendido e analisado. As diferentes escalas são interligadas, uma vez que todas são maneiras de compreender o espaço geográfico. O termo escala pode ser associado à escala cartográfica, mas deve ultrapassá-la, pois não envolve apenas análise numérica, quantitativa, mas também análise qualitativa dos fenômenos analisados. Devido a dificuldade de seleção de uma escala prioritária e mais adequada para análise de um fenômeno, Vainer [7] propôs a adoção de estratégias transescalares para compreensão dos fenômenos e situações do mundo atual, assim como para promover intervenções. As estratégias transescalares são propostas porque “qualquer projeto de transformação envolve, engaja e exige táticas em cada uma das escalas em que hoje se configuram os processos sociais, econômicos e políticos estratégicos” [7]. A escala em si é menos importante que a capacidade de articulação entre variadas escalas.
REFERÊNCIAS
1. CORREA, Roberto Lobato. Espaço Geográfico: algumas considerações. In: ______. Novos Rumos da Geografia Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982, p. 25-34.
2. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC,1988, p.64-65.
3. GOMES, Paulo César da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias; ______; CORREA, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76.
4. CASTRO, I. E. de. "A região como problema para Milton Santos". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, v. VI, n. 124, 30 de septiembre de 2002.
5. LEITE, Adriana Filgueira. O Lugar: Duas Acepções Geográficas. In: Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. Rio de Janeiro: 1998, volume 21, p. 9-20.
6. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1) São Paulo: Paz e Terra, 2000. Tradução de Roneide Venâncio Majer com colaboração de Klauss Brandini Gerhardt.
7. VAINER, Carlos Bernardo. As escalas do poder e o poder das escalas: o que pode o poder local? In: Cadernos do IPUR. Rio de Janeiro: IPUR-UFRJ/DPA Editora, 2002, p. 13-32.
Fonte:
www.coluni.ufv.br. A importância dos conceitos da Geografia para a aprendizagem de conteúdos geográficos escolares. Autora: Severina Sarah Lisboa. Acesso em 18/07/2012.