Luís Guilherme Barrucho - Da BBC Brasil em São
Paulo
Embora já
tenha conquistado o posto de sexta maior economia do mundo em 2011, o Brasil
ainda se vê às voltas com dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas
que destoam do papel assumido pelo país na cena internacional nos últimos anos.
Tal conjunto de entraves, o chamado "Custo Brasil", impede um
crescimento mais robusto da economia, minando a eficiência da indústria
nacional e a competitividade dos produtos brasileiros. Segundo especialistas, o
recente cenário da queda dos juros deixou tais entraves ainda mais evidentes. "Por
muito tempo, as empresas aproveitaram-se dos juros altos para ganhar dinheiro,
aplicando seus lucros no mercado financeiro com vistas a maiores retornos.
Porém esse cenário está mudando", afirmou à BBC Brasil André Perfeito,
economista-chefe da Gradual Investimentos. Na prática, com essas aplicações
agora menos rentáveis, as empresas começam a deslocar o excedente de capital do
setor financeiro para o setor produtivo, investindo na expansão dos próprios
negócios. Nessa transição, o 'Custo Brasil' acaba ficando mais transparente,
apontam os analistas. Na semana passada, o governo anunciou um pacote de R$ 133
bilhões em concessões ao setor privado de rodovias e ferrovias brasileiras
pelos próximos 25 anos, na tentativa de contornar graves gargalos da
infraestrutura do país. A decisão foi comemorada, porém ainda há um longo
caminho a percorrer. Confira os cinco principais vilões do crescimento da
economia brasileira, que, segundo as últimas previsões, não deve crescer acima
de 1,75% neste ano.
1) Infraestrutura precária
Segundo um estudo do Departamento de
Competitividade de Tecnologia (Decomtec), da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp), as empresas têm uma despesa anual extra de R$ 17 bilhões
devido à precariedade da infraestrutura do país, incluindo péssimas condições
das rodovias e sucateamento dos portos. Como resultado, os custos logísticos
acabam encarecendo o produto final. De acordo com um levantamento do instituto
ILOS, cerca de 30% do preço da tonelada soja produzida em Mato Grosso e
exportada do porto de Santos, por exemplo, referem-se apenas aos gastos com
transporte do grão. "O Brasil também fez uma opção pelo transporte
rodoviário, mais caro do que outros meios, como ferrovias ou hidrovias",
afirmou Márcio Salvato, coordenador do curso de Economia do Ibmec. Além da
infraestrutura, o país também sofre com as altas tarifas de energia elétrica,
apesar de cerca de 70% de sua matriz energética ser proveniente de
hidrelétricas, consideradas mais limpas e baratas. Uma pesquisa da Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (Fierj), publicada no ano passado, mostrou que
o custo médio de energia no Brasil é 50% superior à média global e mais do que
o dobro de outras economias emergentes.
2) Déficit de mão de obra
especializada
Em alguns setores da indústria, o Brasil já vive
"um apagão de mão de obra", com falta de profissionais qualificados
capazes de executar tarefas essenciais ao crescimento do país. Segundo o mais
recente levantamento feito pela consultoria Manpower com 41 países ao redor do
mundo, o Brasil ocupa a 2ª posição entre as nações com maior dificuldade em
encontrar profissionais qualificados, atrás apenas do Japão. Entre os
empresários brasileiros entrevistados para a pesquisa, 71% afirmaram não ter
conseguido achar no mercado pessoas adequadas para o trabalho. Para efeitos de
comparação, na Argentina o índice é de 45%, no México, de 43% e na China, de
apenas 23%. "Se no Japão o maior entrave é o envelhecimento da população,
o problema no Brasil é a falta de qualificação profissional", afirmou à
BBC Brasil Márcia Almström, diretora da Recursos Humanos da filial brasileira
da Manpower. De acordo com uma pesquisa divulgada neste ano pelo Ipea, o
governo direcionou apenas 5% do PIB em 2010 para a educação, contra 7% do
padrão internacional. "Sofremos com a falta de profissionais de nível
técnico, de operações manuais e de engenheiros", acrescentou Almström. Atualmente,
segundo a consultoria McKinsey, apenas 7% dos trabalhadores brasileiros têm
diploma universitário, atrás da África do Sul (9%) e da Rússia (23%).
3) Sistema tributário
complexo
Segundo o relatório 'Doing Business' do Banco
Mundial, são necessárias 2.600 horas por ano para empresas de médio-porte
brasileiras somente para pagar impostos, contra 415 na Argentina, 398 na China
e 254 na Índia. "Já passou da hora para que o Brasil simplifique seu
sistema tributário", disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual
Investimentos. Um dos exemplos da alta complexidade tributária no Brasil pode
ser verificado no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Como
está presente em todos as etapas da cadeia produtiva, seu recolhimento ocorre
diversas vezes e leva à cobrança de imposto sobre imposto, também conhecido de
"imposto em cascata". "São 27 legislações, uma para cada estado,
além de alíquotas diferentes para cada produto. Isso sem falar na alíquota
interestadual", afirmou Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria
e professor da FGV-SP. "Isso dificulta a vida do empresariado
brasileiro", acrescentou. O resultado são produtos menos competitivos, que
chegam mais caros às gôndolas e sofrem maior concorrência dos estrangeiros.
4) Baixa capacidade de
investimentos público e privado
Historicamente, a taxa de investimentos tanto
pública quanto privada é baixa no Brasil, em torno de 18% do PIB. Especialistas
consideram que seria necessário elevar esse patamar para, pelo menos, 25% do
PIB, de forma a permitir um crescimento sustentável da economia. Isso porque,
sem investimentos, para a compra de novos maquinários ou para a construção de
novas rotas de escoamento, por exemplo, há uma menor eficiência produtiva, o
que encarece e diminui a competitividade dos produtos brasileiros. "É
preciso que o governo faça os ajustes necessários para aumentar a confiança do
empresariado e, assim, incentivar o investimento", acrescentou Salto.
5) Burocracia excessiva
Segundo o Banco Mundial, entre 183 países o Brasil
ocupa o 126º lugar quando se analisa a facilidade de se fazer negócios, abaixo
da média da América Latina (95º) e atrás de países como Argentina (115º),
México (53º), Chile (39º) e Japão (22º). Até obter retorno sobre seus
investimentos, cabe aos empresários brasileiros vencer uma via-crúcis, que,
inclui, entre outras etapas, 13 procedimentos apenas para abrir um negócio, ou
119 dias. Na Argentina, são necessários 26 dias, no Chile, 7 e na China, 14. Entre
tais procedimentos estão, por exemplo, a homologação da empresa em diferentes
órgãos de supervisão, o registro dos funcionários e licenças ambientais. "Ao
fim e ao cabo, o custo das empresas é extremamente alto, antes mesmo que elas
produzam qualquer centavo", afirmou Salvato.
Fonte: www.bbc.co.uk/portuguese. Acesso em 07/09/2012.
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ResponderExcluirDesculpa pela demora e obrigado pelo acesso. Meu nome é Rodrigo e vou ver se habilito o contato no perfil.
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