Por Diego Braga Norte
Com fortes laços com a
Rússia, Ucrânia é seduzida pelo bloco europeu - e oscila entre os dois. Saibam
quais são as origens da disputa e o que está em jogo nessa queda de braço.
Uma república de mais de 44
milhões de pessoas, com uma economia fragilizada, mas com enorme potencial e um
território de mais de 600 000 quilômetros quadrados (área maior que a da
França, o maior país da União Europeia) está sendo alvo de uma queda de braço
entre UE e Rússia. Enquanto os europeus têm interesse em expandir suas
fronteiras para o leste e isolar a Rússia, Moscou quer aumentar sua zona de
influência e aproximar-se da UE para confrontá-la. E no meio do caminho tinha uma Ucrânia.
Muito novo – a Ucrânia
independente tem apenas 23 anos – o país é para a UE a porta de entrada do
Oriente, e para a Rússia, a porta de saída para o Ocidente. Enquanto a UE tenta
abrir a porta, para a Rússia o importante é fechá-la. Por sua posição
estratégica, tamanho e potencial, o país é alvo de cobiça dos europeus, mas
ainda vive sob a sombra da Rússia – que tem ligações umbilicais com Kiev. Questões
históricas, culturais e econômicas ligam a Ucrânia ao país de Vladimir Putin,
mas a população que tem protestado nas ruas vê motivos mais fortes para se
inclinar para o outro lado. Os manifestantes apreciam os benefícios oferecidos
pelo Ocidente, principalmente os jovens, estudantes e profissionais da classe média,
como explicam o professor Evert Vedung, especialista em União Europeia e
professor emérito de ciência política da Universidade de Uppsala, na Suécia.
“Eles parecem preferir a democracia ocidental ao autoritarismo russo porque o
tratado com a Rússia não contém quaisquer requisitos democráticos nem defende
um sistema jurídico com menos corrupção e mais direitos humanos”. No papel,
tudo parecia estar muito bem encaminhado. Na prática, como diria Garrincha, ‘faltou
combinar com os Russos’.
O ‘Não’ – Em 28 de novembro,
a União Europeia foi esnobada pela Ucrânia. Em Vilnius, na Lituânia, onde foi
realizada uma cúpula com seis ex-repúblicas soviéticas – Ucrânia, Geórgia,
Moldávia, Bielo-Rússia, Armênia e Azerbaijão – os resultados foram muito aquém
do esperado pelos europeus. A UE só conseguiu firmar dois acordos de associação
com a Geórgia e a Moldávia, pequenos países com economias minúsculas e
população somada inferior a 6 milhões habitantes. Os demais ex-satélites da
extinta URSS não quiseram se aproximar da Europa. Dos quatro que se abstiveram,
o mais importante é a Ucrânia. A rejeição ao acordo desencadeou protestos
contra o governo ucraniano, mas, depois de alguns enfrentamentos mais ríspidos
entre o povo e a polícia, a situação ficou mais calma, segundo o embaixador
brasileiro em Kiev, Antônio Fernando Cruz de Mello. “Os dois lados estão
dispostos a dialogar e isso é bom”. Mello também avalia que por ser uma
república que ainda engatinha, essa crise pode vir a fortalecer as instituições
democráticas do país. “Por ser um país da ex-URSS, os tempos aqui são mais
dilatados e as coisas não acontecem na velocidade do Ocidente. A Revolução
Laranja durou meses. O povo não dá sinais de arrefecimento e as negociações
internas podem ser lentas, mas podem vir a fortalecer a democracia na Ucrânia”.
O professor Angelo Segrillo, especialista em leste europeu e professor do
Instituto de Relações Internacionais da USP, concorda e avalia que, neste
momento, derrubar o governo seria um erro. “O presidente Yanukovych tem
legitimidade, foi eleito em um processo democrático. Se quiserem derrubá-lo tem
de ser nas urnas”, defende.
Disponível em: http://veja.abril.com.br. Acesso em
09/12/2013.
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