BRUXELAS (AFP) – Após o acordo sobre a
reestruturação da dívida grega, cuja aprovação foi anunciada na madrugada desta
sexta-feira, os ministros de Finanças da Eurozona desbloquearam 35,5 bilhões de euros para a Grécia, sendo essa a primeira parte de um pacote de 130 bilhões de
euros, que começará a ser entregue na próxima semana e salvará o país do
default descontrolado. Estes 35,5 bilhões correspondem diretamente ao
perdão parcial da dívida, destinados essencialmente a ajudar os bancos a
oferecer garantias ao Banco Central Europeu (BCE), disse o titular das Finanças
da Alemanha, Wolfgang Schäuble em uma coletiva de imprensa ante a imprensa ao
término de uma coletiva telefônica do Eurogrupo.
O acordo sobre a reestruturação da dívida grega
era uma condição básica para desbloquear esse segundo pacote de crédito, que
totaliza 130 bilhões de euros. Como os bancos da Eurozona não podem utilizar já
seus títulos da dívida grega como garantia nas operações de empréstimo do BCE,
os dirigentes europeus lhes haviam prometido uma compensação financeira. O restante do pacote, 94,5 bilhões de euros, será
desbloqueado provavelmente na próxima semana, disse Schäuble, “uma vez que
sejam cumpridas as questões formais”. “Não superamos o problema, mas demos um passo
importante”, completou o ministro. O governo da Grécia anunciou nesta sexta-feira
que quase 84% de seus credores privados aceitaram a operação de troca da
dívida, o que representará a perda de mais da metade dos valores dos títulos e
abrirá o caminho para desbloquear os recursos necessários para salvar o país da
falência. Segundo o Ministério das Finanças, os
proprietários de bônus da dívida grega – donos de um montante avaliado em 172
bilhões de euros – aceitaram a troca, que corresponderá a 83,5% dos € 206
bilhões de dívida pública nas mãos de investidores privados (bancos,
seguradoras e fundos de investimento). O percentual sobe a 85,8% quando considerados
apenas aqueles que adquiriram títulos sob regimes do direito grego. Esta é a maior reestruturação de uma dívida da
história, que supera os 82 bilhões de dólares do default da Argentina em 2002
(73 bilhões de euros com a cotação da época). Atenas destacou ainda que, devido a ampla adesão,
o governo ativou as cláusulas de ação coletiva (CAC) que forçam os credores privados
reticentes a aceitar a operação. Esta medida elevará o nível de adesão a 95,7%. A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário
Internacional (FMI) haviam condicionado ao êxito da operação – que representa
um desconto de 53,5% do valor dos bônus gregos em mãos privadas – o repasse de
130 bilhões de euros para salvar o país da quebra. Esta quantia corresponde ao segundo resgate
concedido à Grécia por seus sócios da Eurozona. O primeiro plano de ajuda, de
110 bilhões de euros em 2010, se revelou insuficiente para salvar um país que
tem as contas abaladas e entra em 2012 no quinto ano consecutivo de recessão. Menos de 75% de adesão teria significado um
fracasso da operação e deixado a Grécia exposta a um rápido default, já que o
país enfrenta vencimentos por 14,4 bilhões de euros em 20 de março. As principais bolsas mundiais, o petróleo e a
cotação do euro registram alta nesta sexta-feira. Na Europa, as Bolsas abriram
próximas da estabilidade, depois que fecharam em alta na véspera com as
notícias de um possível êxito na operação grega. O ministro das Finanças, Evangelos Venizelos,
agradeceu aos investidores que se uniram à “histórica” iniciativa. “Em nome da República, quero expressar meu apreço
a todos os nossos credores que apoiaram nosso ambicioso programa de reforma e
ajuste, e que compartilharam os sacrifícios do povo grego neste esforço
histórico”, destacou Venizelos em um comunicado. O ministro informou que o prazo para os credores
que compraram títulos da dívida grega sob regimes legais estrangeiros aceitem a
operação, cujo prazo foi ampliado para eles até 23 de março. Nesta categoria,
apenas 69% dos investidores aderiram ao plano. Atenas tem atualmente uma dívida pública total de
350 bilhões de euros, equivalentes a 160% do Produto Interno Bruto (PIB). O
conjunto de planos de ajuste, reduções da dívida e créditos deve permitir ao
país reduzir a dívida a 120,5% do PIB em 2020. A aplicação das CAC permitirá superar 95% de
adesão do plano, mas a adesão forçada também poderia ativar os seguros contra a
falta de pagamentos (CDS), que em fevereiro alcançavam 3,2 bilhões de euros. A Alemanha, principal economia europeia,
considerou que o acordo representa um “grande passo” para a estabilidade da
Grécia. O Instituto Internacional de Finanças (IIF), uma
associação do sistema bancário que participou na elaboração do processo,
destacou que a reestruturação “dá à Grécia uma grande oportunidade de avançar
com seu programa de reformas e reforça a capacidade da Eurozona de criar um
ambiente de estabilidade e crescimento”. Pouco antes do anúncio oficial, a diretora
gerente do FMI, Christine Lagarde, havia afirmado que a perspectiva de um
acordo “afasta, no momento, o risco de uma crise”. A operação de troca será concretizada na próxima
segunda-feira para os bônus de direito grego.
Fonte:
www.cartacapital.com.br
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